sexta-feira, 25 de junho de 2010

Atemporal e Alocal


Tudo aconteceu muito rápido. De repente a noticia: o Saramago morreu! Remeto a 2002. Meu primeiro contato com o autor. Havia terminado a escola de teatro a cerca de um ano e, como de praxe, os jovens atores recém formados tinham o sonho de 'não ser mais um', 'não ser mais um rostinho bonitinho' e, 'mudar o mundo com idéias'. Da batelada de formandos todos os semestres (as mesmas pessoas que são contra a 'linha de produção' e a repetem), um grupo de destacou e realmente fez coisas bacanas. Ainda faz, embora o grande sonho de muitos hoje em dia seja apenas 'ser mais um' ou apenas 'um rostinho bonitinho'. Já o mundo, esse não muda tão fácil assim.
A Cia Elevador de Teatro Panorâmico desenterrou o conto da Ilha Desconhecida. Com uma seriedade velada o texto passa por infantil e foi um primeiro grande passo para a companhia que ganhou prêmios merecidos sob tutela do diretor Marcelo Lazzaratto. Na época não sabia bem se o dom era do Marcelo que é um dos mais brilhantes encenadores que conheço ou se o texto era realmente sensacional. Ambas as alternativas são corretas.
No mesmo ano e no mesmo teatro Sérgio Cardoso em São Paulo assisti ao grande sucesso 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo' com um Thiago Lacerda de dorso nu e uma Maria Fernanda Cândido pós Esperança. Poucos iam interessados no texto e muitos saiam sem ter reparado nos atributos dos atores.Conclusão: muito prazer sr. Saramago!
Resolvi então comprar meu primeiro Saramago: 'Ensaio sobre a cegueira' que me foi recomendado pela minha professora de português na faculdade de jornalismo. Sem obrigação de nada. Sempre fui dessas alunas péssimas de matemática mas que devoravam um livro por semana. No meu caso foi muito melhor ser assim.
O início foi difícil, mas, insisti. Estava numa época intelectual voltada à Portugal. Lembro que não muito tempo antes acabara de assistir ao ótimo filme 'Capitães de Abril' que fala sobre a Revolta dos Cravos, aquela única da história que em vez de tiros colocou cravos em canos de revólveres e assim derrubou Salazar em 1974. Então a descrição de Lisboa estava muito viva na memória. Faz jus ao: para viajar basta ler.
E então, totalmente inserida no universo lusitano fui para 'Todos os Nomes'. Meu preferido. De longe! Fantástico. Um dia ainda vou fazer um filme desse livro. A narrativa de Saramago é tão impressinante que podemos sentir os cheiros. Tive essa sensação também em 'Ensaio...'. Maria Bethânia disse que música é perfume. Livro também.
Quanto ao filme 'Blindness' tenho minhas ressalvas embora saiba do valor que tem. É uma obra Holywoodiana segundo escalão. Escrita em português, dirigida por brasileiro. Filmada em todos os lugares (Tokio, Canada, Brasil, Estados Unidos, México)e em lugar nenhum. Atemporal, Alocal. Como seu dono. Ou melhor: progenitor.
O mundo ficou mais burro...

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