terça-feira, 27 de julho de 2010

Dos 20 aos 30...

Marcela era roqueira. Andava com cabelos desalinhados e calça rasgada. Pegava ônibus ouvindo Soul Asylum. Hoje é dondoca. Casou-se com um advogado, tem dois filhos, não trabalha e dirige uma perua. Tem duas babás que permitem suas idas semanais ao cabeleireiro e vários cartões de crédito para sua toalete fina.
Carolina queria casar. CDF sempre foi uma excelente aluna. Nunca ousou. Formou-se em química (que era sua materia preferida), trabalhou por cinco anos na mesma industria com seu namorado, futuro marido. Tomou um pé, pediu demissão, foi pra Londres. Tingiu o cabelo de roxo, fez uma tatuagem e colocou piercing. Voltou para o Brasil e hoje é professora de Ensino Fundamental.
Rafaela namorava Marcelo. Há anos. Tinha uma familia perfeita. Sonhava em ser jornalista e mudar o mundo com suas idéias. Seus pais se separaram, seu mundo caiu, ela não comeu e adoeceu. Saiu do hospital direto para São Paulo onde fugiria de tudo e trabalharia em um grade jornal. Virou designer. Após anos trocou de emprego, virou chefe. Viaja o mundo. Ganhou a vida e nunca mais arrumou um namorado como o Marcelo.
João queria fazer cinema e politica. Prestou vestibular e entrou nas duas. Largou o cinema pela politica. Ou melhor, pelo DA da faculdade. Foi jubilado. Voltou. Viajou dois anos e se desiludiu com o mundo. Ficou deprimido. Viveu tempos só de mesada do pai, com quem não fala. Fez pós-graduação desmotivado. Virou diplomata. Mora em Brasilia.
Fabiana morava em Santos, pegava onda e fumava maconha na praia todo dia. Gostava de ler, já tinha namorado alguns garotos e trabalho não era sua área. Começou a fotografar o por-do-sol no Canal 4. Depois, as pessoas e o que mais aparecesse pela frente. Arrumou o emprego dos sonhos por influencia do padrasto: fotografa de navio. Viajou o mundo. Voltou fotografando, lendo fumando maconha e lésbica. Hoje é funcionária pública com muito orgulho.
A pessoa é para o que nasce??

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sem enrolação


Acredito que houve um hiato na produção direcionada ao público adolescente desde os primórdios de Malhação. Lá no começo, me parece que o programa falava com o seu público, depois,se perdeu. Eu que faço parte da geração 'Confissões de Adolescente' ontem tive a satisfação de assistir ao 'Desenrola' da Rosanne Svartman no Festival de Paulínia.
O filme é tão gostoso que nos faz voltar às salas de aula do colegial (ops! Ensino Médio). Azaração, zoeira com a galera, turma do fundão, as populares, os nerds, os papos de corredor, as noias adolescentes que impossível não se identificar. O melhor é que em momento algum o filme faz pregações politicamente corretas. Me pareceu bem próximo da realidade.
E divertido, leve, como não se via no cinema jovem nacional acredito que desde 'Garota Dourada' nos primórdios da década de 1980. Aliás, a década é bem presente no filme, tanto pelo elenco convidado como Claudoa Ohana, musa total da geração, Leticia Spiller que foi o sonho de muita garota porque era paquita e depois casou com o galã da década Marcelo Novaes, que também faz participação. As referências aos livros e aos discos e aos shows!
A relação com os pais que eram os adolescentes de 'Garota Dourada'e que viviam os mesmos dilemas e... 'será que eles esqueceram como era ter 16 anos?' Está provado para nós espectadores que eles já tiveram.
Cabe lembrar que nessa 'sêca' juvenil cinematográfica temos um levíssimo respiro com 'Houve Uma vez dois verões' do Jorge Furtado, mas, infelizmente foram poucos os que viram.

Marofadas:

- Várias, na praia em um luau!



Serviço:
Filme 'Desenrola' de Rosanne Svartman

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Soneto do Conselho - by Rafa Nygaard

"Se eu fosse você, meu camarada
Não ficaria achando que tudo vai dar em nada
Que a dela foi mais uma roupa amassada

Se eu fosse você, meu camarada
Pensava com calma
Pois esta sim pode ser a sua bem-amada

Ah, se eu fosse você, meu camarada
Eu mandaria flores
Escreveria cartas de amor (ridículas*)
Esqueceria seus tolos temores

Mas como não sou você, meu camarada
Me resta dizer que tudo que é bom tarda
Mas uma hora chega
E agora não vá você, meu camarada, fazer outra grande trapalhada!"

Grande Rafa! Essa é das minhas!

O que você levaria na mochila?


Imagine que você tem que colocar sua vida em uma mochila comum. Olhando à sua volta você começa pelas estantes: vão os livros, CDs, DVDs, talvez um notebook com documentos importantes tenham eles o teor que for, algumas fotos, bibelôs diversos trazidos de viagens ou de momentos marcantes. Aí você passa para as gavetas: roupas diversas para todas as estações diferentes tamanhos e cores, cada uma de uma época, muitas que nem servem mais mas fazem parte da sua história. Aquele frasco de perfume, seus tratamentos de beleza sem os quais não pode viver. Até que você chega nas coisas grandes e que lhe custaram anos de trabalho para conquistar: mesa, cadeiras, geladeira, televisão... seu carro.

O peso dessa mochila começa a ter significado sob seus ombros. Imagine que se você for realmente carregá-la para fora de casa, é melhor nem fazê-lo, pois, está realmente pesada e seu conforto torna-se um fardo. Então em um momento de fúria você joga essa mochila fora, queima. E tudo se perde.

E você percebe que os livros, os CDs, os DVDs, o notebook, as lembrancinhas de viagem continuam lá. Que roupa, basta a que você está vestindo e que os elefantes brancos não passam de elefantes brancos.

O que valeu disso tudo foram as idéias contidas nos livros, as músicas do CD, os filmes do DVD, o cérebro matemático e lógico do notebook (mas você tem o seu!), as recordações das viagens, o cheiro do perfume que te lembra aquela música que te lembra aquele dia que te lembra aquele lugar e que te faz gostar mais daquela pessoa.

Fotos? São lindas e perfeitas para quem não tem memória. Foto tem no máximo cor. Foto não tem cheiro, não tem gosto, não tem sentimento. Transmite, mas não tem. O que transmite na verdade é a recordação que ela tras.

Agora imagine a mochila novamente vazia e nela você só pode colocar o sentimento. Então você não coloca mais a música, você coloca o namorado. Você não coloca mais o casaco de lã feito pela sua avó, você coloca a sua avó. Você não coloca mais um livro emprestado pela sua irmã, você coloca a sua irmã. E por aí vai: mãe, pai, amigos queridos, uma babá, uma professora, uma paixonite, um amor louco, um caso importante, um primo perdido, um tio, e por aí vai.

O peso da mochila seria muito maior.

Mas por se tratar de sentimento e este não conter peso físico e sim virtual a sua mochila fica leve e você fica mais livre. Leva consigo apenas o que não pesa. Mas que é essencial.