Selton Melo é um dos poucos artistas brasileiros que tem a capacidade e a sorte de transitar livremente entre cinema e televisão, entre 'back' e 'front' stage, com grande autoridade. Selton é ator, diretor, produtor, captador, roteirista e, nas horas vagas, galã de novela global e protagonista de campanhas publicitarias dos mais diversos apelos.
Dentre as caracteristicas profissionais deste que é um dos maiores artistas da minha geração (galera entre vinte e poucos e trinta e trá-la-lá), está, dentro do âmbito mencionado sua incrível flexibilidade exercendo a mesma função. Atualmente ele domina um terço das salas do Unibanco Arteplex Frei Caneca em São Paulo, em cartaz ao mesmo tempo com os filmes: "A Erva do Rato", "A Mulher Invisivel" e "Jean Charles".
Convenhamos que quando um ator hollywoodiano consegue uma dádiva dessas é um fato louvável. Porém, quando esse ator é tupiniquim e os filmes são nacionais, uau! isso é extraordinário!
SELTON É BRESSANE
Em "A Erva do Rato", dirigido e roteirizado por Julio Bressane, o ator contracena com a expressionista e 'antunista' Alessandra Negrini, outra excelente atriz que transita razoavelmente bem entre cinema e televisão e que vez ou outra se aventurou na música. Apenas os dois atores e um único cenário: uma casa aparentemente antiga, mas que, no decorrer do filme se mostra atemporal. Podemos entender como 'filme de baixo orçamento'.
Para quem acompanha Bressane há algum tempo, podemos entender que sobraram alguns detalhes de 'Cleopatra', também com Negrini, dos quais vemos aproveitar takes de paisagens e até mesmo o tema, já que a 'deixa' para falar do veneno do rato é o fato de Cleopatra, a rainha das vaidades, ter se suicidado tomando uma dose do mesmo.
A fotografia, sem comentários, é do excepcional Walter Carvalho.
Em determinado momento da trama, o personagem de Selton Melo que passa todo o tempo 'ditando' um livro para sua mulher que escreve, discorre sobre Cleopatra e sobre a crueza do veneno. Longos silêncios marcados por uma verborragia literária, cansativa e intangível pela maioria dos espectadores marca as últimas produções de Bressane que, junto com Ruy Guerra e Sganzerla foi um dos 'marginais' da década de 60.
Ao mesmo tempo, o cinema fala por suas imagens e não pelo seu texto. Um roteiro e não um livro filmado. Se uma imagem fala mais do que mil palavras, um segundo de cinema fala mais do que vinte a quatro mil palavras.
SELTON É GLOBO.
'A Mulher Invisivel' surpreende. Primeiramente parece ser mais um filme nacional para passar na televisão (e com certeza até o final do ano passará num desses especiais de Natal). Pode ser que seja coincidencia que Selton Melo e outra atriz particularmente de cinema, a jovem Maria Manoella (que já interpretou 'Lara' de Lúcia Murat e teve pequena participação no seriado 'Carga Pesada' como a namorada de Wagner Moura que interpretava o filho do caminhoneiro Bino), dêem a reviravolta necessária para que não seja mais um clichê com Luana Piovanni e Vladimir Brichta (este último com todo respeito).
É a prova de que um bom roteiro não depende apenas de bom diretor e grana no bolso e sim, como no teatro, de personagens no mínimo interessantes e bons atores. Neste elenco soma-se Fernanda Torres, que dispensa comentários.
Uma comediazinha romantica, despretensiosa com gosto de auto-ajuda, onde Pedro despe Selton Melo da sisudez brassaniana e mais uma vez veste nele a camisa de um filme de forte apelo comercial e bem humorado.
Poderia neste texto fazer um protesto contra o machismo, ou melhor, a favor do feminismo em colocar a namorada perfeita e invisivel num padrão muitas vezes desejado por homens e de todos os lugares e idades: uma gostosa que passa o dia em casa, de lingerie, fazendo os serviços domésticos da forma mais sexy possível, que não frequenta baladas mas, aguarda o homem em casa, nua sobre a cama, e para completar é fanática por futebol e entende do assunto. Não é mencionado o caráter intelectual da personagem já que sua vestimenta mínima sempre desvia o foco.
O que conforta a mulherada é a grande virada da personagem de Maria Manoella, a Vitoria, uma vizinha de baixíssima estima própria, carente e fantasiosa. Em um estalo ela reverte a situação fazendo investimentos impensados no objeto de desejo (no caso Pedro, seu vizinho, personagem de Selton Melo) e conquista seu espaço.
A produção 'Projactiana' (fazendo menção a 'Fábrica dos Sonhos da Rede Globo', o Projac), não deixa sobressair nenhum detalhe, sendo toda a produção linear do início ao fim. A edição é valorizada principalmente nosmomentos em que Selton imagina estar acompanhado e está sozinho, fazendo com que Luana Piovani esteja e não esteja na cena ao mesmo tempo. Na verdade isso existe desde a época das irmãs Ruth e Raquel interpretadas na Tv Tupi por Eva Wilma no início dos anos 70.
SELTON É TELECINE
O terceiro filme é 'Jean Charles'. Uma história real e recente, ocorrida com um brasileiro em Londres ainda sem final certo e exaustivamente exibido na imprensa. Ele foi morto pela polícia londrina logo após alguns ataques terroristas.
O grande destaque deste é o sensacional Luis Miranda. Baiano, negro, e com passagens respeitadas por grupos de teatro paulistanos como o Teatro da Vertigem e o princípio do Terça Insana, teve boas realizações no cinema, particularmente como o enfermeiro de Rodrigo Santoro em 'O Bicho de Sete Cabeças' e visibilidade na televisão em horário nobre no seriado 'Sob Nova Direção' de Heloisa Perrissé onde contracenava com a autora, Ingrid Guimarães, Luis Carlos Tourinho e o ótimo Otávio Muller.
Alex, é primo de Jean Charles interpretado por Selton Melo. Eles dividem apartamento na periferia com mais uma amiga e o filme começa com a chegada da prima de Jean, Vivian, interpretada por Vanessa Giácomo.
Nos primeiros momentos o filme mostra um 'Jean - Jesus', ou seja, salvador de todos, resolvedor de problemas de todos, amigo de todos, bem quisto e visto pela comunidade. Um benfeitor. Até que, como todo Jesus, Jean encontra seu Judas, na forma de uma brasileira do tipo loura de exportação, que promete lhe ajudar com serviços clandestinos. As coisas começam a degringolar.
Como filme, sem novidades. Roteiro previsivel. É televisão na tela grande. Filme feito para veiculação e público de tv. Está na sala escura ocupando espaço de outros que por falta de orçamento não tem condições de estar ali infelizmente.
De qualquer forma Selton Melo, nosso objeto de pesquisa, encara o filme de forma séria e verdadeira. Mais uma vez, surpreende.
SELTON É QUENTIN TARANTINO (Pra finalizar):
http://www.youtube.com/watch?v=op4byt-DtsI
domingo, 19 de julho de 2009
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