Quando conheci Pierre Allard e Annie Roy em Havana eles eram o típico casal Indiana Jones. Pierre estava sempre com uma 'bermudinha', meias, sapato e chapéu o que lhe tirava totalmente o ar de grisalho charmoso para tiozinho de pernas gambito e lhe dava mais uns 20 anos de vida.
A Annie por sua vez pagava de menininha aparentando bem menos idade, sempre deslocada (pois fala um inglês bem ruim e um espanhol pior ainda)e de preto, embora sempre simpática.
Começamos inesperadamente a falar da vinda do Sérgio para o Canadá. Na realidade, de todos os contatos que fizemos em Havana esse era o menos promissor e o único até agora que vingou realmente. Pierre ao skype sempre me passou um ar quase mal-humorado.
Bem, aqui estamos e eu conheci um cara completamente diferente. Uma prova de que o poder está nas idéias e nas ações e não nas roupas que se veste nem do quão grosseiro você pode ser com um subordinado. O Pierre não altera o tom de voz e seus subordinados o tem como um ídolo. Aliás, ele não tem subordinados, ele tem parceiros. Um camarada.
Ele movimenta por ano quase mil desabrigados e é conhecido por todos e respeitado. Inclusive de muitos sabe o nome, se não, sabe sua história.
Outra pessoa que também conhece a história de quase todos eles é a Ane Marie. Uma pessoa jovem e alegre que se reencontrou na obra de Sérgio por mais que trabalhe com arte todos os dias. Ela é responsável pelo ateliê da St James Church que atende os homeless. Ela e o Bernard um pintor bem conhecido aqui que quase todos os dias está lá ajudando a Annie Marie.
Os dois são tão próximos que parecem namorados, mas, mais uma vez as aparências enganam por aqui.Que a Annie e o Pierre são casados eu sabia desde Cuba e pensava: 'Coitada! esse tiozinho deve ser um mala!'. Minha opinião mudou completamente principalmente depois de hoje presenciar o master beijo que ele deu nela no palco enquanto ela apresentava o show de uma banda.
Soube então que a Ane Marie tem dois filhos que não são do Bernard. Então, tive certeza que ele era gay. E tinha certeza também que a Ane Marie não era casada. Então o Charles levou a Ane Marie para o trabalho e eu pensei que fosse o namorado dela. E é. E o mais legal foi que ela falou assim: 'Ele é 'a kind of husband'. Ele é o pai dos meus filhos'. Peraí, no Brasil ou essas duas coisas são uma só ou são duas coisas bem diferentes. Então eu percebi que eles se chamam de namorados até hoje. Mesmo morando juntos e tendo uma filha de 15 e um filho de 10 anos. E não querem casar.
Bernard hoje me apresentou sua mulher e seu filho de 12 anos e a Michele, que eu não tinha apresentado aqui ainda e que estava dando em cima do Robinho desde o primeiro dia... é lésbica.
Abaixo o trailler do filme do Simon, meu amigo que me conhecia de Cuba (eu não lembrava dele... sorry)sobre o Atsa. Dá uma olhadinha para entender melhor:
sábado, 28 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Notice D´Urgence 4
Pois é... na chuva é todo mundo homeless.
sabe aquela frase popular: 'Todo mundo pelado no mato e ninguém é de ninguém' ou ainda: 'a gente nasce pelado, careca e sem dente... o que vier é lucro!'? Pois é isso que acontece.
Na poesia do cotidiano dentre maus cheiros, barbas por fazer, banhos por tomar, roupas por lavar, dentes (poucos) por escovar, cabelos por cortar e... piolhos circulando por fora das cabeças como as idéias fervilham por dentro. Meu cabelo preso, minhas unhas (ainda feitas), meus pés quase quentinhos, meu cabelo cortado e tratado, meus dentes (todos) limpos e tratados às vezes me deixam em uma sinuca de bico: somos realmente todos seres humanos?
Ou melhor: qual espécie de ser humano somos?
Sei que na hora do vamos ver todo mundo de uma forma ou outra sobrevive. Nas piores condições, ou quase nas 'não-condições'.
Para parar e pensar um pouco:
Na ilha de Fidel, onde as opções são extremamente limitadas, ninguém tem acesso a nada diferente. Ninguém tem nada que não seja dado pelo governo e igual para todos. Mesmo sabendo que os que mandam tem acesso a tecnologias e serviços não oferecidos aos populares. No entanto, todos tem condições mínimas de higiene pessoal por mais que o local em si não seja dos mais limpos em determinadas situações e, mesmo assim, não é nada pior do que era o Brasil na década de 1950 e quase todo mundo sobreviveu.
Aqui nos quase nórdicos americanos, o carro mais simples é quase top de linha no Brasil, os mesmos homeless que não tem o mínimo de sanidade (mental e higiênica) tem iPods e iPhones. O que é mais humano?
Comecei a listar uma série de coisas com as quais poderia perfeitamente viver sem. Puro conforto. Hoje, embaixo de chuva e com um frio que agora está chegando a 0oC o vento descontrolado e eu com um casaco super, como não vende no Brasil, mas, que deve custar cerca de R$ 250,00. Estamos numa barraca que com o vento 'dança' completamente, está com goteiras e o aquecedor parou de funcionar. Estado de guerra.
Mesmo assim fiz diversas coisas na rua, a pé. Não teve outro jeito. Aqui tem que se fazer tudo de metro e tem bastante opção de linhas, mas, tudo que fiz era coisa de não mais de 10 quarteirões. A pé, na chuva, no vento, no frio.
No Brasil com certeza eu não abriria mão do meu carro para ir até a esquina. O tênis molhado me deixaria de mau-humor e só de pensar que ao chegar em casa teria que colocar minhas roupas para secar, já me daria uma preguiça que pioraria ainda mais meu ânimo.
Em Havana mal tínhamos o que comer, durante um mês a variação era circular. Dia sim, dia também. O sol de 30oC a sombra a as caminhadas de horas por dia me fizeram emagrecer quase 5 Kg. As roupas e o corpo ficavam suados por causa do calor. Em Montréal a comida é farta, boa e muitas vezes barata. Não há sol e a temperatura não passa de 4oC. As caminhadas não passam de 15 minutos e as pessoas daqui acham algo realmente longe. Quase não caminham. O lance é bicicleta e metro, além, lógico do carrão. É dificil suar e as pessoas repetem suas roupas e seus cheiros por dias a fio.
Se parar para pensar, as dificuldades são diferentes. Mas são as mesmas. Não é a tôa que uma (Havana) já foi conhecida como 'A Paris do Caribe' e a outra é conhecida como 'Um pedaço da França na América'.
Talvez, qui ças.
Segue vídeo da Ariane Moffat que está fazendo o maior sucesso aqui.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Notícias D´Urgence 3
Eu sempre achei que não importa a sua condição social, uma vez que ela é mudada, transformada, para o que se considera melhor ou o que se considera pior há um estranhamento. Normalmente acreditamos que as coisas caras são com certeza as melhores e por isso nos trazem felicidade, conforto. É só pensar um pouco. A pessoa nasceu e cresceu em churrasquinho na lage com pagode, carne de segunda e chopp no copo descartável.
Se você lhe der um copo de vidro, uma chopeira para gelar, filé mignon e colocar um jazz em uma cobertura em Ipanema, pode te parecer muito mais 'cool' do que o anterior. Pode lhe parecer mais higiênico e de melhor qualidade e conforto.
Vamos a origem da palavra conforto. Conforto significa tudo que constitui seu bem estar, ou, solidariedade nos momentos ruins. Já costume significa um hábito em comum entre os membros sociais e, devemos lembrar que sociedade não necessariamente é a 'high society'. Tudo que foge do seu habitual, no início lhe dá uma certa sensação de desconforto, fora que até por estudos psicológicos, é sabido que durante a infância e a adolescencia é que se forma o ser, ou seja, será muito mais dificil a mudança de costumes após essa fase.
Tem pessoas no entanto que são obrigadas a ser Nietzchenianas mesmo sem querer e muitas vezes sem saber. Já citei o pensador muitas vezes aqui no blog, mas, cada vez mais percebo que em determinadas situações, ser um espírito livre não é mera opção.
De alguns fatos que vi aqui em Montreal, alguns me chamam muito atenção:
- Olivier: é um cara sempre sorridente, parece estar sempre marofando, viajando. Não é muito chegado no trabalho e está sempre olhando as coisas e lendo um jornal. Poderia ser uma versão mais jovem e mais renovada de um Bob marley. Gente boa que só. Não fala quase nada. Sua história: Nascido em Ruanda na África sua família foi chacinada. Através de uma ajuda internacional conseguiu ser enviado para o Canadá - Montréal onde vai conseguir cidadania canadense. Frequenta o St. James Centre.
- Daniel: Nasceu em uma família rica e perdeu sua herança no jogo. Até hoje, mesmo morando na rua, quando consegue um 'merré' é pra jogar na loteria. Sua família o abandonou. Gente boa que só. Tem um cabelão tipo Caetano na década de 70, usa óculos escuros desde que ganhou uma cicatriz no olho devido à queda de um galho de árvore na sua cama enquanto dormia na rua.
- 'Sr Miyagui': Não sei o nome dele, mas, ele é a cara do Sr. miyagui do Karatê kid. Falei isso pra ele e ele me disse que todo mundo chamava ele de Sr. Miyagui. Olhou pra mim com aquela cara de ',já sei onde esse papo vai dar' e disse: 'Minha namorada se suicidou aí eu fiquei triste, sai da minha casa e to aqui (na rua) até encontrar uma outra (namorada)'.
- Dagui: Esse é doido de pedra, mas é gente boa. Ele imita o John Travolta e anda com uma faixa tipo Rambo na cabeça. A faixa é neon fosfuorescente. Ele ri a tôa e de tudo e dança 'Staying Alive'.
Isso é só o que eu consegui saber, tem um outro que eu nem sei o nome mas que me jurou que era da German Army (acho que contei acima) e um outro ainda que me contou durante horas um projeto dele. Detalhe que ele falou do projeto, da grandiosidade da importância e tudo mais, mas, não me disse o que era o projeto. É simplesmente um projeto.
Já me disseram uma vez que é importante a gente ter algum projeto. Talvez isso seja o que ele se apega para seguir em frente. Hoje o Sérgio disse assim: 'Eu pensei que Deus não estava olhando para os brasileiros que vivem na rua: feios, sujos e desdentados. Mas eu to achando que por aqui é que ele não olhou: feio, sujo, desdentado e num frio abaixo de zero'.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Notícias de Urgence 2
Gente... realmente melhor ser pobre estrangeiro que rico no Brasil! Imagine que mendigo canadense é tão chique que fala francês E inglês! Coisa de louco!
De louco mesmo, no bom sentido.
Hoje começamos nosso trabalho por aqui. Depois de Sérgio e Robinho terem sido presos no México (tiveram que aguardar o vôo por 7 horas em uma 'sala especial' com direito a segurança particular), uma de nossas caixas com papelão foi estraviada. Bem a que continha fiação.
Tudo bem, na real quando eu e Pierre estávamos no aeroporto para buscá-los já recebemos um telefonema da Annie dizendo que a mala já havia sido encontrada. Esqueceram só de avisar aos dois que ficaram ali procurando a mala. Sem falar inglês, NEM francês, bem diferente dos mendigos daqui.
Bom, mas voltando... nosso começo foi muito bom. A Saint James Church é uma igreja presbiteriana que tem um trabalho fantástico com os homeless. Pelo que consegui ver, eles tem livre entrada e saida dali. Servem comida, eles têm um ateliê de artes, um salão de jogos e leitura. O interessante é que os motivos que os levaram à rua são semelhantes e diversos ao mesmo tempo do Brasil. Excluindo a questão 'drogas' que é o universo de alguns, o segundo motivo percebido é a 'piração'. Piração mesmo.
Só hoje conversei com um senhor que jurava ser fugitivo de guerra e que na semana passada estava na guerra de Israel e fugiu pela Turquia. (Sim, meu inglês é bom e eu entendi perfeitamente o que ele estava falando). Depois foi a vez de um famoso ator de cinema e tv. Dentre eles, um cabeludo que eu não descobri nada, pois ele me olhava e falava: 'What´s your name? ' e eu: 'Laura'. Ele ria e saia de perto. Ai voltava e a historia se repetia. Foi assim a tarde toda.
Em um momento apenas sai e fui com o Sérgio dar uma entrevista para o La Presse, que é o jornal mais importante daqui. Foi muito bom. Inclusive porque eu peguei um contatinho... hehehe.
veja algumas fotinhas aqui no Picasa...
Pra marofar:
"O que o trabalho ensina, é que do nada a gente transforma. E é isso que a gente veio fazer aqui," Sérgio Cezar - o arquiteto do papelão.
De louco mesmo, no bom sentido.
Hoje começamos nosso trabalho por aqui. Depois de Sérgio e Robinho terem sido presos no México (tiveram que aguardar o vôo por 7 horas em uma 'sala especial' com direito a segurança particular), uma de nossas caixas com papelão foi estraviada. Bem a que continha fiação.
Tudo bem, na real quando eu e Pierre estávamos no aeroporto para buscá-los já recebemos um telefonema da Annie dizendo que a mala já havia sido encontrada. Esqueceram só de avisar aos dois que ficaram ali procurando a mala. Sem falar inglês, NEM francês, bem diferente dos mendigos daqui.
Bom, mas voltando... nosso começo foi muito bom. A Saint James Church é uma igreja presbiteriana que tem um trabalho fantástico com os homeless. Pelo que consegui ver, eles tem livre entrada e saida dali. Servem comida, eles têm um ateliê de artes, um salão de jogos e leitura. O interessante é que os motivos que os levaram à rua são semelhantes e diversos ao mesmo tempo do Brasil. Excluindo a questão 'drogas' que é o universo de alguns, o segundo motivo percebido é a 'piração'. Piração mesmo.
Só hoje conversei com um senhor que jurava ser fugitivo de guerra e que na semana passada estava na guerra de Israel e fugiu pela Turquia. (Sim, meu inglês é bom e eu entendi perfeitamente o que ele estava falando). Depois foi a vez de um famoso ator de cinema e tv. Dentre eles, um cabeludo que eu não descobri nada, pois ele me olhava e falava: 'What´s your name? ' e eu: 'Laura'. Ele ria e saia de perto. Ai voltava e a historia se repetia. Foi assim a tarde toda.
Em um momento apenas sai e fui com o Sérgio dar uma entrevista para o La Presse, que é o jornal mais importante daqui. Foi muito bom. Inclusive porque eu peguei um contatinho... hehehe.
veja algumas fotinhas aqui no Picasa...
Pra marofar:
"O que o trabalho ensina, é que do nada a gente transforma. E é isso que a gente veio fazer aqui," Sérgio Cezar - o arquiteto do papelão.
domingo, 22 de novembro de 2009
Noticias de Urgence.
(esse computador nao faz acentos muito bem...)
Newark me fez lembrar de algo que eu sempre soube: New York nao faz parte dos estados Unidos. Ponto. Sei que falo isso de um aeroporto internacional, onde se pode encontrar gente de todo o mundo, mas a maioria dos voos ali eram domesticos. E por isso que eu amo essa cidade. (Embora tambem saiba que Newark e New Jersey, mas, o que e um riozinho...)
Minha constatacao comecou cedo pela manha quando nao recebia resposta da minha irma que mora nos Estados Unidos e passeava pela cidade se ela iria ou nao me encontrar para um 'breakfast'. A resposta curta e rapida veio rouca. Eram 5h30 da manha. ' Ja voltei pra casa Lala'.
Mas e claro, eu deveria ter elmbrado que ela mora nos estados Unidos e nao NY. E afinal, faz so alguns meses que a gente nao se ve, ne...
Em seguida fui esperar meu voo. No salao de embarque outras comprovacoes. O elegante senhor com umterno muitissimo bem cortado, chapeu panama e um rosto familiar nao me parecia um americano tipico. Foi pensar isso que ele sacou o celular e disse ' Hola Maria!' . E cubano.
O gatinho sentado atras d emim, esse sim e americano tipico. Tipico nao e essa olhada que ele ta me dando. Medo. Tiros em Columbine....
Na minha frente uma francesa provavelmente mae solteira com um moleque de uns 8 anos que esta enchendo uma bexiga e esvaziando-a olhando pra minha cara. To louca pra ir la estourar na cara dele, moleque pentelho! Atras deles uma familia de indianos. Mae, pai, um moleque de uns 4 anos e outro de nao mais que 1 e meio. esse de 4 anos... que folego! O coitado grita feito nao sei o que!
E no meio disso tudo, uma senhora dando um belo escandalo em portugues (tentando gesticular com uma base de verbo 'to be'). Finjo que nao falo o idioma. Eu hein, ser envolvida em escandalos... tenho que preservar minha reputacao internacional!
Newark me fez lembrar de algo que eu sempre soube: New York nao faz parte dos estados Unidos. Ponto. Sei que falo isso de um aeroporto internacional, onde se pode encontrar gente de todo o mundo, mas a maioria dos voos ali eram domesticos. E por isso que eu amo essa cidade. (Embora tambem saiba que Newark e New Jersey, mas, o que e um riozinho...)
Minha constatacao comecou cedo pela manha quando nao recebia resposta da minha irma que mora nos Estados Unidos e passeava pela cidade se ela iria ou nao me encontrar para um 'breakfast'. A resposta curta e rapida veio rouca. Eram 5h30 da manha. ' Ja voltei pra casa Lala'.
Mas e claro, eu deveria ter elmbrado que ela mora nos estados Unidos e nao NY. E afinal, faz so alguns meses que a gente nao se ve, ne...
Em seguida fui esperar meu voo. No salao de embarque outras comprovacoes. O elegante senhor com umterno muitissimo bem cortado, chapeu panama e um rosto familiar nao me parecia um americano tipico. Foi pensar isso que ele sacou o celular e disse ' Hola Maria!' . E cubano.
O gatinho sentado atras d emim, esse sim e americano tipico. Tipico nao e essa olhada que ele ta me dando. Medo. Tiros em Columbine....
Na minha frente uma francesa provavelmente mae solteira com um moleque de uns 8 anos que esta enchendo uma bexiga e esvaziando-a olhando pra minha cara. To louca pra ir la estourar na cara dele, moleque pentelho! Atras deles uma familia de indianos. Mae, pai, um moleque de uns 4 anos e outro de nao mais que 1 e meio. esse de 4 anos... que folego! O coitado grita feito nao sei o que!
E no meio disso tudo, uma senhora dando um belo escandalo em portugues (tentando gesticular com uma base de verbo 'to be'). Finjo que nao falo o idioma. Eu hein, ser envolvida em escandalos... tenho que preservar minha reputacao internacional!
sábado, 21 de novembro de 2009
La cucaracha! (*ou quando Gregor Samsa pegou uma caroninha com a gente...)
Outra noite, indo para a balada, uma singela homenagem à Clarice Lispector e Kafka:
" Esta história poderia chamar-se “As Estátuas”. Outro nome possível é “O Assassinato”. E também “Como Matar Baratas”. Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem.
A primeira, “Como Matar Baratas”, começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse em partes iguais açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de-dentro delas. Assim fiz. Morreram.
A outra história é a primeira mesmo e chama-se “O Assassinato”. Começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então entra o assassinato. A verdade é que só em abstrato me havia queixado de baratas, que nem minhas eram: pertenciam ao andar térreo e escalavam os canos do edifício até o nosso lar. Só na hora de preparar a mistura é que elas se tornaram minhas também. Em nosso nome, então, comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um pouco mais intensa. Um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dia as baratas eram invisíveis e ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranqüila. Mas se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu a preparar-lhes o veneno da noite. Meticulosa, ardente, eu aviava o elixir da longa morte. Um medo excitado e meu próprio mal secreto me guiavam. Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos canos enquanto a gente, cansada, sonha. E eis que a receita estava pronta, tão branca. Como para baratas espertas como eu, espalhei habilmente o pó até que este mais parecia fazer parte da natureza. De minha cama, no silêncio do apartamento, eu as imaginava subindo uma a uma até a área de serviço onde o escuro dormia, só uma toalha alerta no varal. Acordei horas depois em sobressalto de atraso. Já era de madrugada. Atravessei a cozinha. No chão da área lá estavam elas, duras, grandes. Durante a noite eu matara. Em nosso nome, amanhecia. No morro um galo cantou.
A terceira história que ora se inicia é a das “Estátuas”. Começa dizendo que eu me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Vai indo até o ponto em que, de madrugada, acordo e ainda sonolenta atravesso a cozinha. Mais sonolenta que eu está a área na sua perspectiva de ladrilhos. E na escuridão da aurora,um arroxeado que distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na boca de umas um pouco da comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer em Pompéia. Sei como foi esta última noite, sei da orgia no escuro. Em algumas o gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto de inocência, e com tal, tal olhar de censura magoada. Outras — subitamente assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer ter tido a intuição de um molde interno que se petrificava! — essas de súbito se cristalizam, assim como a palavra é cortada da boca: eu te... Elas que, usando o nome de amor em vão, na noite de verão cantavam. Enquanto aquela ali, a de antena marrom suja de branco, terá adivinhado tarde demais que se mumificara exatamente por não ter sabido usar as coisas com a graça gratuita do em vão: “é que olhei demais para dentro de mim! é que olhei demais para dentro de...” — de minha fria altura de gente olho a derrocada de um mundo. Amanhece. Uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa. Da história anterior canta o galo.
A quarta narrativa inaugura nova era no lar. Começa como se sabe: queixei-me de baratas. Vai até o momento em que vejo os monumentos de gesso. Mortas, sim. Mas olho para os canos, por onde esta mesma noite renovar-se-á uma população lenta e viva em fila indiana. Eu iria então renovar todas as noites o açúcar letal? - como quem já não dorme sem a avidez de um rito. E todas as madrugadas me conduziria sonâmbula até o pavilhão? - no vício de ir ao encontro das estátuas que minha noite suada erguia. Estremeci de mau prazer à visão daquela vida dupla de feiticeira. E estremeci também ao aviso do gesso que seca: o vício de viver que rebentaria meu molde interno. Áspero instante de escolha entre dois caminhos que, pensava eu, se dizem “adeus”, e certa de que qualquer escolha seria a do sacrifício: eu ou minha alma. Escolhi. E hoje ostento secretamente no coração uma placa de virtude: “Esta casa foi dedetizada”.
A quinta história chama-se “Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia”. Começa assim: queixei-me de baratas..."
Clarice Lispector - "Felicidade Clandestina"
* Gregor Samsa é o personagem principal do livro 'A Metamorfose' de Franz Kafka onde ele narra a história de um homem que virou barata.
Uma barata chamada Kafka do Inimigos do Rei!
No vídeo: Rafita, Cocó e Lalá.
" Esta história poderia chamar-se “As Estátuas”. Outro nome possível é “O Assassinato”. E também “Como Matar Baratas”. Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem.
A primeira, “Como Matar Baratas”, começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse em partes iguais açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de-dentro delas. Assim fiz. Morreram.
A outra história é a primeira mesmo e chama-se “O Assassinato”. Começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então entra o assassinato. A verdade é que só em abstrato me havia queixado de baratas, que nem minhas eram: pertenciam ao andar térreo e escalavam os canos do edifício até o nosso lar. Só na hora de preparar a mistura é que elas se tornaram minhas também. Em nosso nome, então, comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um pouco mais intensa. Um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dia as baratas eram invisíveis e ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranqüila. Mas se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu a preparar-lhes o veneno da noite. Meticulosa, ardente, eu aviava o elixir da longa morte. Um medo excitado e meu próprio mal secreto me guiavam. Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos canos enquanto a gente, cansada, sonha. E eis que a receita estava pronta, tão branca. Como para baratas espertas como eu, espalhei habilmente o pó até que este mais parecia fazer parte da natureza. De minha cama, no silêncio do apartamento, eu as imaginava subindo uma a uma até a área de serviço onde o escuro dormia, só uma toalha alerta no varal. Acordei horas depois em sobressalto de atraso. Já era de madrugada. Atravessei a cozinha. No chão da área lá estavam elas, duras, grandes. Durante a noite eu matara. Em nosso nome, amanhecia. No morro um galo cantou.
A terceira história que ora se inicia é a das “Estátuas”. Começa dizendo que eu me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Vai indo até o ponto em que, de madrugada, acordo e ainda sonolenta atravesso a cozinha. Mais sonolenta que eu está a área na sua perspectiva de ladrilhos. E na escuridão da aurora,um arroxeado que distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na boca de umas um pouco da comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer em Pompéia. Sei como foi esta última noite, sei da orgia no escuro. Em algumas o gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto de inocência, e com tal, tal olhar de censura magoada. Outras — subitamente assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer ter tido a intuição de um molde interno que se petrificava! — essas de súbito se cristalizam, assim como a palavra é cortada da boca: eu te... Elas que, usando o nome de amor em vão, na noite de verão cantavam. Enquanto aquela ali, a de antena marrom suja de branco, terá adivinhado tarde demais que se mumificara exatamente por não ter sabido usar as coisas com a graça gratuita do em vão: “é que olhei demais para dentro de mim! é que olhei demais para dentro de...” — de minha fria altura de gente olho a derrocada de um mundo. Amanhece. Uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa. Da história anterior canta o galo.
A quarta narrativa inaugura nova era no lar. Começa como se sabe: queixei-me de baratas. Vai até o momento em que vejo os monumentos de gesso. Mortas, sim. Mas olho para os canos, por onde esta mesma noite renovar-se-á uma população lenta e viva em fila indiana. Eu iria então renovar todas as noites o açúcar letal? - como quem já não dorme sem a avidez de um rito. E todas as madrugadas me conduziria sonâmbula até o pavilhão? - no vício de ir ao encontro das estátuas que minha noite suada erguia. Estremeci de mau prazer à visão daquela vida dupla de feiticeira. E estremeci também ao aviso do gesso que seca: o vício de viver que rebentaria meu molde interno. Áspero instante de escolha entre dois caminhos que, pensava eu, se dizem “adeus”, e certa de que qualquer escolha seria a do sacrifício: eu ou minha alma. Escolhi. E hoje ostento secretamente no coração uma placa de virtude: “Esta casa foi dedetizada”.
A quinta história chama-se “Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia”. Começa assim: queixei-me de baratas..."
Clarice Lispector - "Felicidade Clandestina"
* Gregor Samsa é o personagem principal do livro 'A Metamorfose' de Franz Kafka onde ele narra a história de um homem que virou barata.
Uma barata chamada Kafka do Inimigos do Rei!
No vídeo: Rafita, Cocó e Lalá.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Last Night Jairzão saved my life!
Ontem, munida de meus amigos, tive a certeza de presenciar um momento se não histórico, único. Não sei se ele faz isso sempre. Eu pelo menos nunca havia visto, mas, com certeza, dada a importância emocional e mais uma vez histórica de letra e música, 'Arrastão' já tenha sido interpretada outras vezes em circunstâncias parecidas. E provavel que por ele mesmo.
A platéia não tinha mais que 50 pessoas. O Na Mata café, que dificilmente fica vazio, parece ter sido atingido em cheio pela Lei Antifumo. Era plena 4a. feira e o Jair Rodrigues (mais uma vez ele), subiu no pequeno mas gabaritado palco para uma 'canja'. Antes, obviamente, tiramos outra foto.
Primeiro cantou seu pout-pourri de praxe mas nem por isso menor. Depois, começou:
- Hoje eu queria cantar uma música aqui...(silêncio)... é que eu fiquei pensando muito nessa música e numa pessoa, numa pessoinha que era desse tamanho (mede seu cotovelo) mas que no palco ficava deste tamanho (abre os braços). Na década de 60 eu e ela tivemos um programa que se chamava 'O Fino da Bossa' (na Tv Record).... que era um sucesso tremendo.... Quer ver só... eu tenho certeza que agora que eu vou cantar essa música ela vai estar aqui nesse palo comigo. (Virou-se para o guitarrista) Me dá uma nota... um si-bemol
"Eeeei, tem jangada ao mar... ei, ei, ei... la vem vindo arrastão...."
Uma emoção de gerações tomou conta de mim. Imediatamente todas as histórias dos meus pais, tios e avós sobre os Festivais de Música, os programas musicais, as músicas de resistência, Elis Regina.... Tudo isso estava ali, naquela hora, naqueles minutos, tudo sintetizado na minha frente. Tudo passou como um filme de uma vida que eu não vivi, só ouvi. Literalmente.
Toda aquela ovação dos auditórios para mais de mil pessoas, toda aquela potência musical, vocal, intelectual e seja lá mais o que for... e eu, uma previlegiada de fazer parte dos seletos que puderam ver e entender isso.
Salve Jair!
A platéia não tinha mais que 50 pessoas. O Na Mata café, que dificilmente fica vazio, parece ter sido atingido em cheio pela Lei Antifumo. Era plena 4a. feira e o Jair Rodrigues (mais uma vez ele), subiu no pequeno mas gabaritado palco para uma 'canja'. Antes, obviamente, tiramos outra foto.
Primeiro cantou seu pout-pourri de praxe mas nem por isso menor. Depois, começou:
- Hoje eu queria cantar uma música aqui...(silêncio)... é que eu fiquei pensando muito nessa música e numa pessoa, numa pessoinha que era desse tamanho (mede seu cotovelo) mas que no palco ficava deste tamanho (abre os braços). Na década de 60 eu e ela tivemos um programa que se chamava 'O Fino da Bossa' (na Tv Record).... que era um sucesso tremendo.... Quer ver só... eu tenho certeza que agora que eu vou cantar essa música ela vai estar aqui nesse palo comigo. (Virou-se para o guitarrista) Me dá uma nota... um si-bemol
"Eeeei, tem jangada ao mar... ei, ei, ei... la vem vindo arrastão...."
Uma emoção de gerações tomou conta de mim. Imediatamente todas as histórias dos meus pais, tios e avós sobre os Festivais de Música, os programas musicais, as músicas de resistência, Elis Regina.... Tudo isso estava ali, naquela hora, naqueles minutos, tudo sintetizado na minha frente. Tudo passou como um filme de uma vida que eu não vivi, só ouvi. Literalmente.
Toda aquela ovação dos auditórios para mais de mil pessoas, toda aquela potência musical, vocal, intelectual e seja lá mais o que for... e eu, uma previlegiada de fazer parte dos seletos que puderam ver e entender isso.
Salve Jair!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
SOBRE O QUE DEIXAMOS AQUI....
A Beta, que é leitora do blog, deixou outro dia um comentário interessante. Ela colocou mais ou menos assim (podem conferir no post abaixo): 'porque a humanidade passa por esses vexames de seguir esses tiranos ridículos para só se tocar depois, quando já é tarde?'.
Achei melhor respoder ou melhor, continuar a discussão via post, do que uma simples resposta, pois, se trata de um assunto importante realmente. Essa discussão tem inclusive, que estar sempre em pauta, para que estejamos sempre pensando no assunto. Principalmente para que tentemos evitar novamente ditaduras como essas.
Outro dia, houve uma grande comemoração no Japão pelos 20 anos de ascensão do imperador Akihito. Nos desfiles via-se principalmente jovens e crianças, e o imperador comentou ter grande preocupação com eles pois teme que esqueçam o que representou o Japão na Segunda Guerra e a Segunda Guerra para o Japão. Basta lembrar de dois episódios que marcaram a história da humanidade: as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.
Há que se pensar em cultura e educação par não deixar fatos como esses passarem em branco na formação dos cidadãos de qualquer local do mundo. Não pense que pimenta nos olhos dos outros é colírio porque não é. Do mesmo jeito que caiu para ele, cai para você também.
Mais uma vez eu acredito nisso: Educação!
Educação para superar preconceitos e entender os conceitos. Educação para ter bons modos e discernimento. Educação para entender os fatos. Educação para ter disciplina e, como dizia aquele rockeiro cult-rebelde de Brasília nos anos 80: 'Disciplina é Liberdade'.
Meu pai, que é historiador e jornalista sempre diz: "Saber o passado para entender o presente e prever o futuro".
Achei melhor respoder ou melhor, continuar a discussão via post, do que uma simples resposta, pois, se trata de um assunto importante realmente. Essa discussão tem inclusive, que estar sempre em pauta, para que estejamos sempre pensando no assunto. Principalmente para que tentemos evitar novamente ditaduras como essas.
Outro dia, houve uma grande comemoração no Japão pelos 20 anos de ascensão do imperador Akihito. Nos desfiles via-se principalmente jovens e crianças, e o imperador comentou ter grande preocupação com eles pois teme que esqueçam o que representou o Japão na Segunda Guerra e a Segunda Guerra para o Japão. Basta lembrar de dois episódios que marcaram a história da humanidade: as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.
Há que se pensar em cultura e educação par não deixar fatos como esses passarem em branco na formação dos cidadãos de qualquer local do mundo. Não pense que pimenta nos olhos dos outros é colírio porque não é. Do mesmo jeito que caiu para ele, cai para você também.
Mais uma vez eu acredito nisso: Educação!
Educação para superar preconceitos e entender os conceitos. Educação para ter bons modos e discernimento. Educação para entender os fatos. Educação para ter disciplina e, como dizia aquele rockeiro cult-rebelde de Brasília nos anos 80: 'Disciplina é Liberdade'.
Meu pai, que é historiador e jornalista sempre diz: "Saber o passado para entender o presente e prever o futuro".
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
BASTARDOS E INGLORIOS.
Ou seria: os gloriosos bastardos?
O novo filme de Quentin Tarantino é repleto de referências e metáforas. Compacta para Tarantino pela frase final de Brad Pitt, o comandante Aldo, quando esse deforma marcando para sempre o último realmente inglório da história e diz com a câmera fadeing out: 'Essa é minha obra prima, não?'
Essa é a pergunta e resposta pessoal de Tarantino aos espectadores.
Sim! Essa é sua obra prima! Uma trajetória que chega a seu ápice pois teve a maturidade de unir o inovador e transgressor ao cinema 'pipoca'. Que não foi exclusivista em seu público como em 'Pulp Fiction' nem incrivelmente 'pipoca' como em 'Kill Bill' a ponto de ter o 1 e o 2.
Pode ser até que alguns alemães nazistas tenham se sentido ofendidos, mas, com certeza, esses não iriam se pronunciar.
O filme é uma sátira praticamente real do ridículo que foi o III Reich. Do ridículo de praticamente toda a humanidade. Do ridículo de ser praticamente subordinado a um louco. O mundo foi envolvido pela loucura cronicamente falando. E isso é ridículo. Hittler e seus comparsas são mostrados da forma que eu acredito que eles realmente foram: seres ridículos. Em todos os sentidos.
Usando artifícios de animação e porque não, épicos, ao identificar os personagens e seus objetivos em textos. Uma ficção que poderia ser real dado, mais uma vez, o ridículo de toda essa situação com a qual o mundo se desgraçou. Fruto do preconceito e da ignorância em seu sentido mais amplo.
A trilha sonora é algo 'tarantiniano' fantástico. A fuga do óbvio, da mesmice e do esperado. Extrema inteligência e bom gosto.
Referências da época (como quando a personagem Shoshana fuma em take réplica de Rita Hayworth em 'Gilda'), referências estratégicas como quando a mesma personagem vai dar o golpe fatal e além de estar de vermelho ('Womam in Red'), os takes são similares aos de 'Instinto Fatal'. Todas referências cinematográficas, aliás, ela herdou um cinema. Nada mais coeso.
Um Brad Pitt a la Popeye. Com os olhos entreabertos, voz rouca, bochechas e braços fortes. Além de ser o símbolo do 'salvador' norte-americano (os EUA com as Forças Aliadas, a qual o Brasil participou, foram quem colocou fim à Segunda Guerra e, foi para esses países que os 'bastardos' - no caso judeus que perderam tudo - foram refugiados, sendo o Brasil, os Eua e a Argentina os que mais os receberam). O Popeye é um marujo que participou da 1a. Guerra. Vide inclusive os figurinos totalmente charleston de Olívia Palito. Ferido, teve que colocar aquele 'tampão' nos olhos, em inglês isso se chama 'pop' (lembre de 'pop-up' da internet) e 'eye', olho. Tapa-olho.
De um jeito meio desastrado, o Popeye sempre vence o Brutus, que é grande e bobo. O império alemão durante a Segunda Guerra, dominou quase toda a europa, enquanto os Estados Unidos devastados pelo Crash de 29, nem sonhavam em se tornar a potência de hoje que teve seu início naquela época, com a mudança de paradigma de modernidade e status da europa (devastada pela guerra) para a América.
Não há mais o que dizer. Tarantino é fantástico!
Ops! Há sim!! O ator que faz o Comandante Landa é terrivelmente nojento. Um ator excepcional. Espartano em sua técnica. Não lhe foge o personagem um segundo sequer e mesmo com as reviravoltas dele próprio na trama em nenhum momento perde o fio da meada. Pelo contrário.
Destaque para a cena do Apffel Struedell, prato típico alemão, em cena onde a personagem de Shoshana sob nome de Emanuelle Mimiex, após ter reconhecido Landa como o assassino de sua família (ele era conhecido como o 'Caçador de Judeus'), foi praticamente obrigada a sentar-se com ele em uma mesa de restaurante e dividir um pedaço da torta preferida dos alemães. É quase como fazer parte da Alemanha. A mesma que aniquilou sua família. Ele inclusive a ensina que a melhor forma de comer tal iguaria é com creme de chantilly em cima, quase como lhe ensinando que para ser alemã, ela teria muito a prender, pois são a tal 'raça superior', que se colocasse em seu lugar.
Sim mais uma vez! Uma obra prima!
Obs: Assistimos o filme eu e Cocó na sala 4 do Kinoplex Itaim em São Paulo. Eu nunca tinha ido nessa sala, afinal su frequentadora assidua da Augusta, Paulista e adjacencias. Vou demorar para voltar lá! Filas gigantescas e demoradas para tudo que é lado. Poucas bilheterias. Poucos lugares nas salas e sinceramente, essa história de lugar marcado em cinema é uma droga! Se quiser pegar algo para comer durante a sessão, esquece também. Além das filas enormes e demoradas mais uma vez, não se pode entrar nas salas com bebidas quentes. Na boa, não consigo. Não é para cinéfilo. É mais para cinófilo mesmo.
A cena do Apffel Struedel no entanto nos empolgou. Dali fomos diretamente para a Ofner. Pode falar o que for e até existem padarias como a Dona Deola que talvez consiga chegar perto. A coxinha da Ofner é única! Depois um capuccino médio, uma empada de palmito e por fim: um Apffel Struedell com chantilly!
No final da noite ainda fui contemplada com um pneu do carro estourado. Tudo bem... acontece comigo sempre. ...
sábado, 14 de novembro de 2009
O bar nosso de cada dia nos dai hoje!
Este não é um blog de serviços nem um guia gastronômico, mas, gostaria de citar dois lugares que gosto muito na Vila Madalena em São Paulo.
Ontem estive no Mercearia São Pedro que é um botecão bem simpático, bem simples no melhor estilo tudo de bom e barato. Esse bar tem algo de família, pois, além de ser de dois irmãos que aproveitaram a mercearia do pai que funcionava no local e que até hoje comercializam produtos desse setor, o clima do bar te permite em plena noite de sexta feira juntar mesa com então desconhecidos quando da sua chegada e utilizar nos pés apenas um par de sandálias havaianas.
Heterogeneamente homogêneo você ao mesmo tempo pode pedir uma cerveja de garrafa com meia porção de frios (que inclui pickles) enquanto lê um livro da estante do local (especializado em quadrinhos e biografias) que é riquíssima. Se quiser, pode levar o livro e pedir para colocar na conta e, se esqueceu de passar no supermercado antes de ir ao bar, você pode adquirir ali mesmo sabão em pó e outros produtos de limpeza e até picolés! Eu ontem sai com 'Brothers Cactus' que é uma coletânea de contos da galera da Praça Roosevelt por R$ 10,00.
O meu bar de sempre, é o Filial. É lá onde eu posso deixar o carro na esquina porque o Gaúcho e o Magal já o conhecem, então, desço ali para não pegar trânsito e eles estacionam para mim. É lá que por mais fila que esteja eu chego e o J.Junior que é um pernambucano corinthiano roxo me arruma uma mesa. É lá que o Joaquim foi eleito o melhor garçom da cidade. É lá que o Aílton não deixa a Rafa voltar de carro quando bebe demais.
No Filial não tem como não encontrar algum conhecido. Já houveram vezes em que fui sozinha e encontrei amigos de bar. Os de sempre. É onde me sinto em casa. Onde como o melhor bolinho de arroz da cidade (da vida!), onde quando a fome aperta mando um Penne e de onde é impossível sair sem comer brownie com sorvete de creme. Ali onde há a melhor caipirinha de saquê de frutas vermelhas. Onde o caldinho de feijão com torresmo ou qualquer outro caldinho são a pedida exata.
Serviço:
Filial: Rua Fidalga com a Aspicuelta do lado do Quitandinha (que é péssimo!) - Vila Madá (PS: Procure pelo Aílton e diga que foi indicação da Laura do Santa Marofa!)
Mercearia São Pedro: Rua Rodésia, 34 - Vila Madá (PS: de dia tem um restaurantezinho natural do lado que é ótimo!).
Ontem estive no Mercearia São Pedro que é um botecão bem simpático, bem simples no melhor estilo tudo de bom e barato. Esse bar tem algo de família, pois, além de ser de dois irmãos que aproveitaram a mercearia do pai que funcionava no local e que até hoje comercializam produtos desse setor, o clima do bar te permite em plena noite de sexta feira juntar mesa com então desconhecidos quando da sua chegada e utilizar nos pés apenas um par de sandálias havaianas.
Heterogeneamente homogêneo você ao mesmo tempo pode pedir uma cerveja de garrafa com meia porção de frios (que inclui pickles) enquanto lê um livro da estante do local (especializado em quadrinhos e biografias) que é riquíssima. Se quiser, pode levar o livro e pedir para colocar na conta e, se esqueceu de passar no supermercado antes de ir ao bar, você pode adquirir ali mesmo sabão em pó e outros produtos de limpeza e até picolés! Eu ontem sai com 'Brothers Cactus' que é uma coletânea de contos da galera da Praça Roosevelt por R$ 10,00.
O meu bar de sempre, é o Filial. É lá onde eu posso deixar o carro na esquina porque o Gaúcho e o Magal já o conhecem, então, desço ali para não pegar trânsito e eles estacionam para mim. É lá que por mais fila que esteja eu chego e o J.Junior que é um pernambucano corinthiano roxo me arruma uma mesa. É lá que o Joaquim foi eleito o melhor garçom da cidade. É lá que o Aílton não deixa a Rafa voltar de carro quando bebe demais.
No Filial não tem como não encontrar algum conhecido. Já houveram vezes em que fui sozinha e encontrei amigos de bar. Os de sempre. É onde me sinto em casa. Onde como o melhor bolinho de arroz da cidade (da vida!), onde quando a fome aperta mando um Penne e de onde é impossível sair sem comer brownie com sorvete de creme. Ali onde há a melhor caipirinha de saquê de frutas vermelhas. Onde o caldinho de feijão com torresmo ou qualquer outro caldinho são a pedida exata.
Serviço:
Filial: Rua Fidalga com a Aspicuelta do lado do Quitandinha (que é péssimo!) - Vila Madá (PS: Procure pelo Aílton e diga que foi indicação da Laura do Santa Marofa!)
Mercearia São Pedro: Rua Rodésia, 34 - Vila Madá (PS: de dia tem um restaurantezinho natural do lado que é ótimo!).
É nóis na neve!
Agora posso começar a falar aos poucos.... Calma, nenhum problema de garganta, só de energias mesmo... hehehe.
Agora vai!
O papo era pro ano que vem e está rolando desde que encontramos com os artistas plásticos canadenses Pierre Allard e Annie Roy na Bienal de Havana em Cuba no início do ano. Ao ver o trabalho do Sérgio (lembra? do meu documentário?) imediatamente nos convidaram a participar. E lá vamos nós para o 'État D´Urgence' na Ong em Montréal cujo nome quer dizer: 'Ação Terrorista Socialmente Aceitável' (A.T.S.A.). Vale a pena nos conferir no site clicando aqui. De qualquer forma, vai o lay out!
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Lúcifer
Não é à tôa que dizem que quando a deu-se a luz, falaram: 'Fiat Lux'. Lux todo mundo sabe, que virou a marca de um famoso sabonete conhecido nos ônibus apertados das 18h. Fiat... bem, não precisa nem dizer... basta lembrar do Topo Gigio e seu pequenino veiculo italiano da fábrica de Torino. A parte isso quis dizer: 'Fez-se a luz!'.
Num trocadilho infeliz, pode-se também dizer: 'Fiat luz'. Sim, Fiat luz, afinal, a luz também falha te deixando na mão quando menos espera...
O melhor comentário sem dúvida foi o dela: vovó! Atacando denovo ela soltou o verbo ao saber que as notícias que a nós chegavam vinham dos Estados Unidos através de torpedos da minha irmã que mora lá:
- Melhor nós comprarmos um radinho de pilha, não?
É o poder do rádio. Ontem quando 10 estados brasileiros ficaram às escuras o entendimento disso valeu mais que um semestre de história da comunicação social. Em pleno 2009, com computadores que cabem na palma da mão, eu pelo menos adoraria ter um walkman igual ao que a Cocó e a irmã dela guardaram da infância e de onde obtinham notícias frescas e cheias de ruidos.
Num trocadilho infeliz, pode-se também dizer: 'Fiat luz'. Sim, Fiat luz, afinal, a luz também falha te deixando na mão quando menos espera...
O melhor comentário sem dúvida foi o dela: vovó! Atacando denovo ela soltou o verbo ao saber que as notícias que a nós chegavam vinham dos Estados Unidos através de torpedos da minha irmã que mora lá:
- Melhor nós comprarmos um radinho de pilha, não?
É o poder do rádio. Ontem quando 10 estados brasileiros ficaram às escuras o entendimento disso valeu mais que um semestre de história da comunicação social. Em pleno 2009, com computadores que cabem na palma da mão, eu pelo menos adoraria ter um walkman igual ao que a Cocó e a irmã dela guardaram da infância e de onde obtinham notícias frescas e cheias de ruidos.
Santa Rita
sábado, 7 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
VOVÓ BY NIGHT
Ela tem 89 anos e ontem resolveu que queria ir assistir o filme da Coco Channel. 'Não aquele documentário, aquele que a Marilize viu', disse enfática. Dias antes, D. Marilize vizinha do 10A estava toda 'emperequetada' aguardando a filha na porta do predio. Iria ao cinema, em uma sessão da Mostra assistir o documentário sobre a Coco.
Há muito não nos 'emperequetamos' para ir no cinema. O glamour de hoje não está mais nas plumas e paetês e sim no cinema que se frequenta e nos filmes que se vê. Algumas décadas antes se 'emperequetava' para ir ao Marrocos, ou ao Marabá. Hoje, quando soube que há sessões a meia noite..
- 'Meia- noite! Imagine que sorte de gente não vai nesses horários'!
- Ih vó, pior é que nesse horário o pessoal é melhor que o das 19h. E qual é o problema? Você nunca dorme antes das 2h mesmo.
- Deus me livre! Ir no cinema a meia noite, veja se tem cabimento uma coisa dessas!
- Bom, tem sessão as 21h50. Quer?
- Ai já é melhor, né?
Fomos. Bem feliz busquei-a na casa da minha prima, onde ela tinha ido conhecer as cadeiras novas da cozinha (sim, houve uma cerimônia para isso). Passei lá as 21h em ponto e fomos ao Bourbon Pompéia onde eu cuidadosamente já havia ido comprar nossas entradas para que não houvesse nenhum imprevisto. Chegamos, tomamos um capuccino, entramos na sala. Vimos o filme.
Na saída perguntei se havia gostado e a resposta foi positiva sem muito entusiasmo. Na volta pergunto:
- Tem pão fresco em casa?
- Acho que não. Podemos passar ali na Deôla para comprar. Não é 24 horas?
Ok! Vovó sabendo tudo de São Paulo by night! Acabamos na Iracema onde compramos pão, sanduichinhos e palmiers.
Na subida da Angélica ela pergunta:
- Será que a Droga Raia está aberta? Preciso pegar meus remédios.
Mais uma parada. E já passava fácil da meia noite. Saimos da farmácia já eram 00h41!
Estacionamos o carro. O porteiro não acreditava no horário.
Entramos em casa e fomos para nossa ceia noturna habitual. Habitual em termos, né, porque hoje, o tradicional chá com torradinhas virou uma baita larica da vovó! Comeu o pão francês fresco com filé mignon que tinha na geladeira sem esquetar e arrematou com um copo de leite gelado!
Essa é a vovó! Vovó 90! Só enfrenta quem aguenta!
Há muito não nos 'emperequetamos' para ir no cinema. O glamour de hoje não está mais nas plumas e paetês e sim no cinema que se frequenta e nos filmes que se vê. Algumas décadas antes se 'emperequetava' para ir ao Marrocos, ou ao Marabá. Hoje, quando soube que há sessões a meia noite..
- 'Meia- noite! Imagine que sorte de gente não vai nesses horários'!
- Ih vó, pior é que nesse horário o pessoal é melhor que o das 19h. E qual é o problema? Você nunca dorme antes das 2h mesmo.
- Deus me livre! Ir no cinema a meia noite, veja se tem cabimento uma coisa dessas!
- Bom, tem sessão as 21h50. Quer?
- Ai já é melhor, né?
Fomos. Bem feliz busquei-a na casa da minha prima, onde ela tinha ido conhecer as cadeiras novas da cozinha (sim, houve uma cerimônia para isso). Passei lá as 21h em ponto e fomos ao Bourbon Pompéia onde eu cuidadosamente já havia ido comprar nossas entradas para que não houvesse nenhum imprevisto. Chegamos, tomamos um capuccino, entramos na sala. Vimos o filme.
Na saída perguntei se havia gostado e a resposta foi positiva sem muito entusiasmo. Na volta pergunto:
- Tem pão fresco em casa?
- Acho que não. Podemos passar ali na Deôla para comprar. Não é 24 horas?
Ok! Vovó sabendo tudo de São Paulo by night! Acabamos na Iracema onde compramos pão, sanduichinhos e palmiers.
Na subida da Angélica ela pergunta:
- Será que a Droga Raia está aberta? Preciso pegar meus remédios.
Mais uma parada. E já passava fácil da meia noite. Saimos da farmácia já eram 00h41!
Estacionamos o carro. O porteiro não acreditava no horário.
Entramos em casa e fomos para nossa ceia noturna habitual. Habitual em termos, né, porque hoje, o tradicional chá com torradinhas virou uma baita larica da vovó! Comeu o pão francês fresco com filé mignon que tinha na geladeira sem esquetar e arrematou com um copo de leite gelado!
Essa é a vovó! Vovó 90! Só enfrenta quem aguenta!
domingo, 1 de novembro de 2009
AMIGOS DO PEITO.
Sabe aquela frase 'os amigos são as família que escolhemos'? Pois bem.... acho que eu escolhi bem essa minha família. Cada um por si, mas com alguma coisa em comum com certeza.
Sempre que posso comento aqui no blog sobre eles(as). mas nunca é demais afinal, são pessoas que teoricamente não teriam o dever moral que um familiar de sangue ou criação teria em nos socorrer nas horas de apuro.
Passar a vida toda convivendo com alguém não é sinônimo de companheirismo muito menos de que na hora que você precisar essa pessoa vá estar lá. Aliás, estar muito provavelmente vai, fisicamente. O primeiro e fatídico 'não' pode vir dai. Bem de onde você contava que fosse sua tábua de salvação... se enganou meu bem.
Disse que escolhi bem, mas, não foi só isso. Dei muita sorte também. Fiz e faço por merecer. Outro dia ouvi um 'sou amiga para algumas coisas, outras não', da mesma pessoa que me estende a mão agora (e que mão!).
Ser amigo é mais que uns copos de chopp, é mais que uma sessão de cinema, é mais que um café ali na esquina é muito mais do que reveillón na praia.
Acho com isso que o segredo das boas amizades e de convivência em geral é saber respeitar os limites.
Sorte minha que sei que meus amigos têm um limite expandido. Mas mesmo assim eu tento ficar dentro dele.... Meus amigos são foda!
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