Eu sempre achei que não importa a sua condição social, uma vez que ela é mudada, transformada, para o que se considera melhor ou o que se considera pior há um estranhamento. Normalmente acreditamos que as coisas caras são com certeza as melhores e por isso nos trazem felicidade, conforto. É só pensar um pouco. A pessoa nasceu e cresceu em churrasquinho na lage com pagode, carne de segunda e chopp no copo descartável.
Se você lhe der um copo de vidro, uma chopeira para gelar, filé mignon e colocar um jazz em uma cobertura em Ipanema, pode te parecer muito mais 'cool' do que o anterior. Pode lhe parecer mais higiênico e de melhor qualidade e conforto.
Vamos a origem da palavra conforto. Conforto significa tudo que constitui seu bem estar, ou, solidariedade nos momentos ruins. Já costume significa um hábito em comum entre os membros sociais e, devemos lembrar que sociedade não necessariamente é a 'high society'. Tudo que foge do seu habitual, no início lhe dá uma certa sensação de desconforto, fora que até por estudos psicológicos, é sabido que durante a infância e a adolescencia é que se forma o ser, ou seja, será muito mais dificil a mudança de costumes após essa fase.
Tem pessoas no entanto que são obrigadas a ser Nietzchenianas mesmo sem querer e muitas vezes sem saber. Já citei o pensador muitas vezes aqui no blog, mas, cada vez mais percebo que em determinadas situações, ser um espírito livre não é mera opção.
De alguns fatos que vi aqui em Montreal, alguns me chamam muito atenção:
- Olivier: é um cara sempre sorridente, parece estar sempre marofando, viajando. Não é muito chegado no trabalho e está sempre olhando as coisas e lendo um jornal. Poderia ser uma versão mais jovem e mais renovada de um Bob marley. Gente boa que só. Não fala quase nada. Sua história: Nascido em Ruanda na África sua família foi chacinada. Através de uma ajuda internacional conseguiu ser enviado para o Canadá - Montréal onde vai conseguir cidadania canadense. Frequenta o St. James Centre.
- Daniel: Nasceu em uma família rica e perdeu sua herança no jogo. Até hoje, mesmo morando na rua, quando consegue um 'merré' é pra jogar na loteria. Sua família o abandonou. Gente boa que só. Tem um cabelão tipo Caetano na década de 70, usa óculos escuros desde que ganhou uma cicatriz no olho devido à queda de um galho de árvore na sua cama enquanto dormia na rua.
- 'Sr Miyagui': Não sei o nome dele, mas, ele é a cara do Sr. miyagui do Karatê kid. Falei isso pra ele e ele me disse que todo mundo chamava ele de Sr. Miyagui. Olhou pra mim com aquela cara de ',já sei onde esse papo vai dar' e disse: 'Minha namorada se suicidou aí eu fiquei triste, sai da minha casa e to aqui (na rua) até encontrar uma outra (namorada)'.
- Dagui: Esse é doido de pedra, mas é gente boa. Ele imita o John Travolta e anda com uma faixa tipo Rambo na cabeça. A faixa é neon fosfuorescente. Ele ri a tôa e de tudo e dança 'Staying Alive'.
Isso é só o que eu consegui saber, tem um outro que eu nem sei o nome mas que me jurou que era da German Army (acho que contei acima) e um outro ainda que me contou durante horas um projeto dele. Detalhe que ele falou do projeto, da grandiosidade da importância e tudo mais, mas, não me disse o que era o projeto. É simplesmente um projeto.
Já me disseram uma vez que é importante a gente ter algum projeto. Talvez isso seja o que ele se apega para seguir em frente. Hoje o Sérgio disse assim: 'Eu pensei que Deus não estava olhando para os brasileiros que vivem na rua: feios, sujos e desdentados. Mas eu to achando que por aqui é que ele não olhou: feio, sujo, desdentado e num frio abaixo de zero'.
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