O fim de noite hoje foi coroado. Fanny Ardant no Roda Viva. Eu adoro o charme francês que não tem nada demais. Simplesmente falar sem alterar o tom de voz e com um leve sorriso nos lábios seja para dizer grosserias sutilmente seja para dizer algo tão simples que parece imensamente profundo. Tudo bem que quando é para 'soltar os cachorros' ninguém melhor que um bom barraco francês também.
Fanny foi por duas vezes Maria Callas, uma no teatro dirigida por Roman Polanski e outra no cinema. Sobre os últimos episódios envolvendo o diretor, afirmou para o entermediador Cunha Junior que o episódio da prisão por envolvimento sexual com uma menos de idade mais d euma década depois é vergonhoso para os Estados Unidos (onde foi proferida a sentença) e para a Suiça (onde ele foi preso).
Em finais da década de 1970 conheceu e se envolveu com o diretor François Truffaut com quem inclusive teve sua segunda filha, Josephine, e com quem ficou até a morte do diretor em 1984. Foi com Truffaut também que ficou no imaginário masculino (e convenhamos, feminino também) como uma das melhores cenas de amor do cinema mundial no filme 'La femme d´à cotê' (A mulher do lado) com ninguém mais ninguém menos que Gerard Depardieu (que hoje é o ótimo Obelix da saga Asterix&Obelix no cinema, mas, já foi galã).
São muitos os monstros sagrados com os quais trabalhou. Entre os maiores estão François Ozon ('8 Femme'), outros de Truffaut, Alain Resnais ('La vie est um roman', 'Mélo'), Ettore Scola ('La Familia' e 'La Cena'), Agnés Varda ('Siódmy Pokoj'), Jean-Jacques Adrien, Sydney Pollack, entre outros. Segundo a atriz que também é cineasta, 'o cinema é em partes e no teatro o espectador tem que ver o personagem inteiro, portanto, hoje em dia, que somos de gerações de cinema e televisão, não se deve fazer peças para mais de duzentas pessoas, o teatro tem que ser intimista'. Disse também que sua arte é o cinema.
Mas a grande frase que ficou foi quando mencionou que se não fosse atriz gostaria de ter um salão de beleza, o que gerou 'risadinhas' típicas de quem pensa pequeno. Ela não deu risada. Na verdade nem entendeu porque riam e do que riam. Afinal ser cabeleireiro aqui é desejo de quem pensa pequeno, certo? Não sei. Não concordo. Se não houvessem os cabeleireiros não haveriam as madames, não haveriam tendências de moda, seriamos todos iguais. Enfim, essa é outra discussão. Eu acredito que ser cabeleireiro também é uma forma de expressão. Basta lembrar de Coco Channel (que inclusive foi interpretada por Ardant no teatro e por aqui teve tradução de Maria Adelaide Amaral para Marília Pêra). Ninguém acreditava que uma mulher poderia ditar moda confeccionando chapéus.
Em seguida a cineasta Laís Bodansky (que Cunha Junior apresentou antes de sua primeira pergunta merecidamente com pompas e honras) comentou o ocorrido. E solicitou à entrevistada que falasse da condição da mulher, ao que ela respondeu que embora tenha vivido no ápice do feminismo, isso não a atingiu e muitas a recriminavam por isso. Disse que vem de uma familia de homens exemplares e que jamais foi embutido em seus pensamentos e em sua formação a competição homemXmulher. E que ela admira muito as mulheres que nessa época 'peitaram' não trabalhar fora para cuidar de seus filhos e de seu marido, ou, como ela mesma disse, 'do homem que elas amam'. E começou a chorar emocionada.
Cunha Junior pediu um intervalo e deu um tempo para essa amante de Margueritte Duras respirar.