Plena Virada Cultural de 2010 em São Paulo e eu resolvi dar uma 'aburguesada'. Não fui pular no meio da muvucada como fiz outros anos, por mais que tenham dezenas de shows na madruga que eu gostaria de ver e rever como o Jairzão, os Temptations, aqueles caras que fazem cover do Abba ('mamma mia, here we go again...'), tava doida pra ver a Rita Cadillac fazendo intervenções depois do show do Magal, mas... não deu. E o motivo é simples: não consigo tentar assistir a um show enquanto as outras nem sei quantas mil pessoas em volta estão mais preocupados em 'encher a lata' no meio da rua, vomitar e ficar gritando ao seu lado.
E não venham me dizer que isso é papo de burguês. Pode até ser. 'Eu sou burguês, mas eu sou artista, e estou do lado do povo'. Só que do povo que sabe festejar sem atrapalhar a festa dos outros. Então, prefiro ir de dia. Assim os deslumbrados em passar a noite no meio da rua já nem sem aguentam em pé e ou foram embora ou dormem embaixo de uma árvore qualquer na praça da República (sem-tetos oficiais e free-lancers).
Vou de dia. Já vi shows memoráveis nas Viradas Culturais. Em 2008 assisti um show do Lobão sensacional no palco República. No mesmo ano assisti o 'Baile do Simonal', o primeiro, com Simoninha e Max de Castro, muito antes de voltar a moda. Ano passado vi no meio da Avenida São João um 'Novos Baianos' fantástico com seu 'novo' Acabou Chorare. Vi também no mesmo palco a insossa Maria Rita que me entreteu por alguns minutos.
Antes disso ainda, quando a Virada ainda se restringia a alguns centros culturais na cidade, gerenciei uma Mostra Zé do Caixão no finado Popcine da Rua Maria Antonia. E vi estréias no cinema no Reserva Cultural e no Cinesesc sensacionais. Aliás, acredito que muito do que incentivou esse movimento foram os 'noitões' do Belas Artes e as 'odisséias' do Espaço Unibanco. Eram ótimas. Estréias, filmes surpresa, música e um belíssimo café-da-manhã.
Bom, mas fato é que bem hoje enquanto ocorre a festa democrática cultural que me exclui por uma questão de conforto e seleção, fui em um dos mais burgueses teatros paulistanos e paguei. Achei que estava fazendo um excelente negócio levar minha avó, apaixonada pelo ator Rodrigo Lombardi, o 'Raj', assistir ao espetáculo estreado essa semana ao lado de Fúlvio Stefanini no Teatro Faap. 'A Grande Volta'.
O texto foi traduzido por Paulo Autran naquele fase que o tema era sempre o mesmo: duas pessoas 'quase estranhas' se encontram e tem que conviver. Foi assim em 'Visitando o Sr. Green' que fez com Cássio Scapirn e depois com Dan Stulbach, um velho rabugento e solitário é obrigado a aceitar a visita de um rapaz que quase lhe atropelou como penitência ao segundo. Em seguida veio 'O Quadrante' com Cecil Thiré onde um pintor que morava isolado numa ilha recebia um jornalista para entrevistá-lo. Me parece que depois descobria-se que eram pai e filho, ou que um foi casado com a esposa do outro, um negócio assim. Não me lembro bem, não vi, para mim o tema já tinha esgotado.
Juro que pensei que dessa vez seria um pouquinho só diferente. Não foi. Foi chato. Mas não culpo de todo o espetáculo, aliás, culpo 50% a platéia burra que o assistia. Vamos aos fatos. Vi um Rodrigo Lombardi com texto bem decorado, boas entonações, mas, querendo que cada frase fosse uma 'frase de efeito', o que não acontecia provavelmente por dois motivos, um é porque a platéia atrapalhou e outro é porque estava realmente um tom acima, forçado as vezes. Vi um Fúlvio Stefanini como sempre fantástico, natural, com as entonações na medida exata. Vi um texto fraco (desculpem, sim, fraco) e fico até com medo de dizer isso tendo em vista os montros sagrados da produção. Fúlvio Stefanini me chocou também por seu tamanho, não só a mim, está enormemente gordo.
Vi um cenário bonito, clean, inteligente e funcional. Idem para os figurinos, adereços e iluminação. Já a trilha sonora não chega a ser de todo coerente. Em minha opinião abusam de melodias judaicas. Fosse eu a diretora, a colocaria somente no final, ou mesclava com o blues que é paradigma no espetáculo. Sinceramente não vi necessidade de trilha sonora, as referencias seriam suficientes.
Por fim, o que estragou o espetáculo foi.... a platéia! Aquela 'peruada' perfumada e laqueada tossia formando uma sinfonia durante todo o espetáculo. Perdi frases inteiras graças ao pigarreado e, se não era isso, eram as gargalhadas. Eu disse gargalhadas! Senhoras e senhores, estamos tratando de um texto dramático, um reencontro de pai e filho que já começa no clímax. A peça não 'fechou' perfeitamente para mim, pois, acredito que tenha perdido bastante coisa, não ouvido pois a qualquer 'merda' (e como falavam palavrão! eu pensei que isso já era!)proclamada, a platéia vinha abaixo.
Em determinado momento o pai fala ao filho como conheceu sua esposa. Ele diz que queria muito lhe presentear e então a levou a um 'shopping' pois queria comprar-lhe um vestido ou uma roupa, mais cara, mais bacana. Ela olhou uma loja, olhou outra e por nada se interessava. Então viu uma vitrine com livros e, a contra-gosto dele, a principio, optou por 'O Jardim das Cerejeiras' de Tchekov. Ele não gostou do presenteu que lhe deu. Um vestido seria muito mais grandioso pensava. Eles então foram às margens de um rio e ela leu para ele um dos maiores classicos de todos os tempos.
Talvez se a platéia dessa noite comprasse menos vestidos e mais livros, entende-se melhor o que estava sendo dito. Mas, na realidade, ninguem vai ao teatro para entender. Ninguém paga caro para aprender nada e muito menos pensar um pouco. Ninguém aprofunda nada, fica tudo ali pelo vestido.
Talvez também seja realmente mais válido ir para o centro da cidade passar a noite tomando vinho barato para suportar o frio, e poder ver os shows que a burguesia paga caro para ver, para dizer que é culta. Muito provavelmente esses que fazem esse sacrifício entendem o verdadeiro valor da arte e cultura. E talvez também, suas gargalhadas sejam mais verdadeiras e sua festa barulhenta seja mais justa.
E não venham me dizer que isso é papo de burguês. Pode até ser. 'Eu sou burguês, mas eu sou artista, e estou do lado do povo'. Só que do povo que sabe festejar sem atrapalhar a festa dos outros. Então, prefiro ir de dia. Assim os deslumbrados em passar a noite no meio da rua já nem sem aguentam em pé e ou foram embora ou dormem embaixo de uma árvore qualquer na praça da República (sem-tetos oficiais e free-lancers).
Vou de dia. Já vi shows memoráveis nas Viradas Culturais. Em 2008 assisti um show do Lobão sensacional no palco República. No mesmo ano assisti o 'Baile do Simonal', o primeiro, com Simoninha e Max de Castro, muito antes de voltar a moda. Ano passado vi no meio da Avenida São João um 'Novos Baianos' fantástico com seu 'novo' Acabou Chorare. Vi também no mesmo palco a insossa Maria Rita que me entreteu por alguns minutos.
Antes disso ainda, quando a Virada ainda se restringia a alguns centros culturais na cidade, gerenciei uma Mostra Zé do Caixão no finado Popcine da Rua Maria Antonia. E vi estréias no cinema no Reserva Cultural e no Cinesesc sensacionais. Aliás, acredito que muito do que incentivou esse movimento foram os 'noitões' do Belas Artes e as 'odisséias' do Espaço Unibanco. Eram ótimas. Estréias, filmes surpresa, música e um belíssimo café-da-manhã.
Bom, mas fato é que bem hoje enquanto ocorre a festa democrática cultural que me exclui por uma questão de conforto e seleção, fui em um dos mais burgueses teatros paulistanos e paguei. Achei que estava fazendo um excelente negócio levar minha avó, apaixonada pelo ator Rodrigo Lombardi, o 'Raj', assistir ao espetáculo estreado essa semana ao lado de Fúlvio Stefanini no Teatro Faap. 'A Grande Volta'.
O texto foi traduzido por Paulo Autran naquele fase que o tema era sempre o mesmo: duas pessoas 'quase estranhas' se encontram e tem que conviver. Foi assim em 'Visitando o Sr. Green' que fez com Cássio Scapirn e depois com Dan Stulbach, um velho rabugento e solitário é obrigado a aceitar a visita de um rapaz que quase lhe atropelou como penitência ao segundo. Em seguida veio 'O Quadrante' com Cecil Thiré onde um pintor que morava isolado numa ilha recebia um jornalista para entrevistá-lo. Me parece que depois descobria-se que eram pai e filho, ou que um foi casado com a esposa do outro, um negócio assim. Não me lembro bem, não vi, para mim o tema já tinha esgotado.
Juro que pensei que dessa vez seria um pouquinho só diferente. Não foi. Foi chato. Mas não culpo de todo o espetáculo, aliás, culpo 50% a platéia burra que o assistia. Vamos aos fatos. Vi um Rodrigo Lombardi com texto bem decorado, boas entonações, mas, querendo que cada frase fosse uma 'frase de efeito', o que não acontecia provavelmente por dois motivos, um é porque a platéia atrapalhou e outro é porque estava realmente um tom acima, forçado as vezes. Vi um Fúlvio Stefanini como sempre fantástico, natural, com as entonações na medida exata. Vi um texto fraco (desculpem, sim, fraco) e fico até com medo de dizer isso tendo em vista os montros sagrados da produção. Fúlvio Stefanini me chocou também por seu tamanho, não só a mim, está enormemente gordo.
Vi um cenário bonito, clean, inteligente e funcional. Idem para os figurinos, adereços e iluminação. Já a trilha sonora não chega a ser de todo coerente. Em minha opinião abusam de melodias judaicas. Fosse eu a diretora, a colocaria somente no final, ou mesclava com o blues que é paradigma no espetáculo. Sinceramente não vi necessidade de trilha sonora, as referencias seriam suficientes.
Por fim, o que estragou o espetáculo foi.... a platéia! Aquela 'peruada' perfumada e laqueada tossia formando uma sinfonia durante todo o espetáculo. Perdi frases inteiras graças ao pigarreado e, se não era isso, eram as gargalhadas. Eu disse gargalhadas! Senhoras e senhores, estamos tratando de um texto dramático, um reencontro de pai e filho que já começa no clímax. A peça não 'fechou' perfeitamente para mim, pois, acredito que tenha perdido bastante coisa, não ouvido pois a qualquer 'merda' (e como falavam palavrão! eu pensei que isso já era!)proclamada, a platéia vinha abaixo.
Em determinado momento o pai fala ao filho como conheceu sua esposa. Ele diz que queria muito lhe presentear e então a levou a um 'shopping' pois queria comprar-lhe um vestido ou uma roupa, mais cara, mais bacana. Ela olhou uma loja, olhou outra e por nada se interessava. Então viu uma vitrine com livros e, a contra-gosto dele, a principio, optou por 'O Jardim das Cerejeiras' de Tchekov. Ele não gostou do presenteu que lhe deu. Um vestido seria muito mais grandioso pensava. Eles então foram às margens de um rio e ela leu para ele um dos maiores classicos de todos os tempos.
Talvez se a platéia dessa noite comprasse menos vestidos e mais livros, entende-se melhor o que estava sendo dito. Mas, na realidade, ninguem vai ao teatro para entender. Ninguém paga caro para aprender nada e muito menos pensar um pouco. Ninguém aprofunda nada, fica tudo ali pelo vestido.
Talvez também seja realmente mais válido ir para o centro da cidade passar a noite tomando vinho barato para suportar o frio, e poder ver os shows que a burguesia paga caro para ver, para dizer que é culta. Muito provavelmente esses que fazem esse sacrifício entendem o verdadeiro valor da arte e cultura. E talvez também, suas gargalhadas sejam mais verdadeiras e sua festa barulhenta seja mais justa.
Gostei muito do texto, Lalá! Muito feliz em ler seus posts e saber como anda a vida paulistana... Algumas coisas simplesmente não mudam, ne!?
ResponderExcluirbeijoo