As vezes eu tenho saudades de tempos que não vivi.
Houve uma época em que viajar de avião era algo imensamente planejado, aguardado, calculado, onde uma mistura de espírito aventureiro e glamour representavam o máximo em status e modernidade. Mulheres de tailleurs e chapéus, homens de terno e chapéus. No saguão dos aeroportos, música clássica.
As pessoas caminhavam até a escadinha que dava acesso à aeronave na própria pista de pouso e decolagem. Muitos aliás estavam ali apenas para se despedir de alguém que enfrentaria os ares ou simplesmente para ver o sobe e desce dos gigantes.
Ir ao aeroporto era um programa romântico no seu sentido mais amplos. Tanto que uma das cenas mais clássicas do cinema de todos os tempos é Ingrid Bergman e Humphrey Bougart no filme Casablanca quando pela última vez eles se declaram e na escuridão surge um aviãozinho (daqueles de dar medo mesmo) e leva a enamorada embora para sempre. Mas, we´ll always have Paris.
Minha avô era da aeronautica e minha avó tem um diploma por ter cruzado a linha do Equador com a Panair lá pelos idos de 1940. Ela inclusive viajou de Concorde de Paris à NY (hoje ele nem pode mais voar). Eu me lembro dos enormes Jumbos fretados pela Dimensão turismo na década de 1980 e que levava ao mesmo tempo uma molecada sem número para férias na Disney (também não podem mais voar).
Com as novas tecnologias viajar de avião hoje em dia é banal. É simples e até mais barato que ônibus e, como tudo que vira muito popular, a aviação perdeu parte de seu charme.
Ontem pela primeira vez viajei pela Azul. Empresa criada por um brasileiro nato, filho de norte americanos e crescido à maneira Tio Sam. O vôo equivalente à ponte-aérea Rio-Sampa sai do aeroporto de Viracopos na região de Campinas. O que me deixa ainda mais nostálgica, pois, cresci ouvindo as histórias da construção deste aeroporto em terras pertencentes à família do meu avô e desapropriada nos idos de 1950. Ainda tem alguma coisa por ali, mas, nada comparado ao de antes até pela perda monetária.
Totalmente reformado, em nada deve se parecer com o lugar onde meu pai surpreendeu minha mãe e a 'Gonzagada' toda (apelido carinhoso dado ao clã da máfia), no início da década de 1970 com flores, chocolates e o DKW emprestado do pai (não se ia ao aeroporto de fusca). O intuito era se despedir pois ela partiria para um temporada nos EUA (para quem não sabe, antes de existir Cumbica - hoje Aeroporto Governador André Franco Montoro, os vôos internacionais saiam de Viracopos e Congonhas).
Já eu, ontem, peguei um ônibus no Terminal Rodoviário da Barra Funda, cedido gratuitamente pela empresa. Meus companheiros se divertiam com celulares 'Casas Bahia'. Tiravam fotos. Pode não ter mais o glamour de antes, mas, para a maioria dessas pessoas era sim uma grande novidade além do status de chegar ao 'mafuá' de onde vieram 'di avinhão'. Anunciavam em alto e bom som nos celulares com pinduricalhos que estava chegando ao aeroporto.
Um ítem que ainda nos remetia à outra época era aquele discurso de apresentação da tripulação pelo comandante da nave. Esqueça isso. Na Azul assume-se o presunto! Não tem essa de arrotar caviar. Presunto é presunto e pronto! Realmente muita formalidade já não combina mais com meu tênis velho e moleton confortável à bordo. O comandante Thomas apresentou-se apenas pelo primeiro nome, com imenso bom humor e bom gosto de maneira bem didática como deveria ser com os não acostumados ao 'novo' meio de transporte:
- Pessoal, boa tarde! (em vez de 'Sras e Srs bem vindo a bordo da aeronave Azul...')
- Não tirem os cintos, ok? Senão depois dá problema, é gente batendo a cabeça no teto, enfim, esperem a luz apagar (óbvio que não adiantou nada, mas ele tentou e as pessoas entenderam, só não compreenderam. Não adianta, a falta de educação é geral).
As aeromoças, ops! comissárias de bordo muito simpáticas e solicitas. Também quebrando formalidades e muito sorridentes e educadas.
A parte mais poética do meu trajeto ainda tem bons resquícios dos aureos tempos: o aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro. Para quem nunca foi, a experiência é única. Se em Congonhas você tem a impressão que se não cair na Bandeirantes ao pousar é sorte, no caso do SDU é milagre. Ali, de dia é inevitavel pensar em 'Minha alma canta, veja o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade...'.
Ficam na minha não memória o saguão principal do aeroporto de Congonhas, a escadinha para subir no avião, caminhar na pista e... bater palma no pouso e na decolagem!
Segue cena:
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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