quinta-feira, 24 de setembro de 2009

As time goes by...

As vezes eu tenho saudades de tempos que não vivi.
Houve uma época em que viajar de avião era algo imensamente planejado, aguardado, calculado, onde uma mistura de espírito aventureiro e glamour representavam o máximo em status e modernidade. Mulheres de tailleurs e chapéus, homens de terno e chapéus. No saguão dos aeroportos, música clássica.
As pessoas caminhavam até a escadinha que dava acesso à aeronave na própria pista de pouso e decolagem. Muitos aliás estavam ali apenas para se despedir de alguém que enfrentaria os ares ou simplesmente para ver o sobe e desce dos gigantes.
Ir ao aeroporto era um programa romântico no seu sentido mais amplos. Tanto que uma das cenas mais clássicas do cinema de todos os tempos é Ingrid Bergman e Humphrey Bougart no filme Casablanca quando pela última vez eles se declaram e na escuridão surge um aviãozinho (daqueles de dar medo mesmo) e leva a enamorada embora para sempre. Mas, we´ll always have Paris.
Minha avô era da aeronautica e minha avó tem um diploma por ter cruzado a linha do Equador com a Panair lá pelos idos de 1940. Ela inclusive viajou de Concorde de Paris à NY (hoje ele nem pode mais voar). Eu me lembro dos enormes Jumbos fretados pela Dimensão turismo na década de 1980 e que levava ao mesmo tempo uma molecada sem número para férias na Disney (também não podem mais voar).
Com as novas tecnologias viajar de avião hoje em dia é banal. É simples e até mais barato que ônibus e, como tudo que vira muito popular, a aviação perdeu parte de seu charme.
Ontem pela primeira vez viajei pela Azul. Empresa criada por um brasileiro nato, filho de norte americanos e crescido à maneira Tio Sam. O vôo equivalente à ponte-aérea Rio-Sampa sai do aeroporto de Viracopos na região de Campinas. O que me deixa ainda mais nostálgica, pois, cresci ouvindo as histórias da construção deste aeroporto em terras pertencentes à família do meu avô e desapropriada nos idos de 1950. Ainda tem alguma coisa por ali, mas, nada comparado ao de antes até pela perda monetária.
Totalmente reformado, em nada deve se parecer com o lugar onde meu pai surpreendeu minha mãe e a 'Gonzagada' toda (apelido carinhoso dado ao clã da máfia), no início da década de 1970 com flores, chocolates e o DKW emprestado do pai (não se ia ao aeroporto de fusca). O intuito era se despedir pois ela partiria para um temporada nos EUA (para quem não sabe, antes de existir Cumbica - hoje Aeroporto Governador André Franco Montoro, os vôos internacionais saiam de Viracopos e Congonhas).
Já eu, ontem, peguei um ônibus no Terminal Rodoviário da Barra Funda, cedido gratuitamente pela empresa. Meus companheiros se divertiam com celulares 'Casas Bahia'. Tiravam fotos. Pode não ter mais o glamour de antes, mas, para a maioria dessas pessoas era sim uma grande novidade além do status de chegar ao 'mafuá' de onde vieram 'di avinhão'. Anunciavam em alto e bom som nos celulares com pinduricalhos que estava chegando ao aeroporto.
Um ítem que ainda nos remetia à outra época era aquele discurso de apresentação da tripulação pelo comandante da nave. Esqueça isso. Na Azul assume-se o presunto! Não tem essa de arrotar caviar. Presunto é presunto e pronto! Realmente muita formalidade já não combina mais com meu tênis velho e moleton confortável à bordo. O comandante Thomas apresentou-se apenas pelo primeiro nome, com imenso bom humor e bom gosto de maneira bem didática como deveria ser com os não acostumados ao 'novo' meio de transporte:
- Pessoal, boa tarde! (em vez de 'Sras e Srs bem vindo a bordo da aeronave Azul...')
- Não tirem os cintos, ok? Senão depois dá problema, é gente batendo a cabeça no teto, enfim, esperem a luz apagar (óbvio que não adiantou nada, mas ele tentou e as pessoas entenderam, só não compreenderam. Não adianta, a falta de educação é geral).
As aeromoças, ops! comissárias de bordo muito simpáticas e solicitas. Também quebrando formalidades e muito sorridentes e educadas.
A parte mais poética do meu trajeto ainda tem bons resquícios dos aureos tempos: o aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro. Para quem nunca foi, a experiência é única. Se em Congonhas você tem a impressão que se não cair na Bandeirantes ao pousar é sorte, no caso do SDU é milagre. Ali, de dia é inevitavel pensar em 'Minha alma canta, veja o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade...'.
Ficam na minha não memória o saguão principal do aeroporto de Congonhas, a escadinha para subir no avião, caminhar na pista e... bater palma no pouso e na decolagem!
Segue cena:

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