La vague vanguard – Agnes Varda
Antes do inicio da sessão no Festival do Rio de 2009, Agnes Varda com 82 anos apresenta seu filme autobiográfico e convida a todos os espectadores a ‘pegá-los pelas mãos e estar conosco e nós com ela, durante a exibição’. Comenta ainda que da ultima vez que veio ao Brasil foi com seu marido, já falecido, o cineasta Jacques Demy que estava lançando ‘Os guarda-chuvas do amor’, seu grande propulsor profissional e ela lançava o filme ‘Felicidade’. Isso foi há 40 anos. Quem lhe abriu as portas por aqui foi o pai da sua anfitriã de hoje tamanha identificação e afinidade que se perpetuaram. Ate a mãe deste cineasta também já falecido veio à sessão. Estamos falando de Glauber Rocha.
Varda esta diretamente ligada ao movimento da Nouvelle Vague francesa da década de 1960. Também nesta edição do festival em comemoração ao ano da França no Brasil, Jeanne Nouveau, de ‘Jules et Jim’ entre tantos outros está presente. Ambas eram parceiras de Truffaut, Godard e Demy. O desejo de Agnes era que seu documentário sobre si mesma ficasse pronto para seu aniversario de 80 anos. Graças ao tempo a mais necessário, pode-se dizer, que ela rejuvenesceu. Seu trabalho é muito mais instigante e muito mais inovador do que de cineastas iniciantes e que deveriam estar ansiosos por descobertas novas.
A começar que é mostrado aquilo que realmente é. Sem disfarces. Logo na primeira cena Agnes, na praia, brinca com espelhos. Ela conta que sempre gostou de espelhos. Poderia ser só isso não tivesse um segundo sentido: o cinema é feito com câmeras e esta com lentes e espelhos reflexivos. Outra interpretação dos espelhos pode ser a questão da ilusão de óptica. O que reflete é realmente o que vemos? O espelho é traiçoeiro, mas, a película não. Aquilo que esta ali é o que será refletido como todo.
“Cinema é luz. É a luz captada e refletida que pode ser branco e preta ou colorida” – argumenta.
As praias estão presentes na vida de Agnes desde muito pequena. Alias a paria tem uma ligação forte com o sexo feminino, pois a mesma lua que rege as mulheres, rege a maré. Para aqueles que não acreditam nesse elo e, se continuarmos nas divagações sobre os espelhos, chegamos a Sartre que diz ‘A vida é sonho, ilusão’. E prosseguimos com o mesmo: ‘existe (muito) mais coisa entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia’.
O que há por trás da vanguarda de Varda? Ao mesmo tempo em que encarou sozinha seu primeiro filme tendo se mudado para uma aldeia de pescadores para filmá-lo com a ajuda de seus habitantes, também encarou sozinha a primeira filha, Rosalie, cujo pai ‘sumiu’ após o anuncio da gravidez.
Não tardou para encontrar Demy, seu grande e definitivo amor com quem dividiu vida e arte e quem foi o pai de Rosalie e de Mathieu, o filho dos dois que hoje é um ator renomado na França. Como boa esposa, foi por onde seu marido andou chegando a morar por dois anos em Los Angeles e se envolvendo com os registros do movimento hippie, os black panthers e o que aparecesse naquelas terras.
Como seus espelhos e como as ondas do mar, o pensamento não é único. Ele é livre. Agnes é livre. Seu pensamento se divide como a tela que por vezes em duas, por vezes em quatro e por vezes mais quadros mostram como ainda estão saltitantes seus ‘macaquinhos do sótão’. As cores da obra também se sobressai e por diversos momentos temos um filme-arte. Toda a trama da praia é perfeitamente costurada. Todos os elementos são perfeitamente afinados, coesos e coerentes. Como na musica clássica muito apreciada pela diretora. Seu preferido: Schubert, conforme sua mãe lhe ensinou.
Não há o que criticar em ‘Las plages d´Agnes Varda’, há muito que aprender, em termos de vida e em termos cinematográficos. Sem duvida um dos documentários (principalmente quando se fala de autobiográfico que aumenta muito o grau de dificuldade) mais bem feitos que já assisti.
Para marofar:
Antes do inicio da sessão no Festival do Rio de 2009, Agnes Varda com 82 anos apresenta seu filme autobiográfico e convida a todos os espectadores a ‘pegá-los pelas mãos e estar conosco e nós com ela, durante a exibição’. Comenta ainda que da ultima vez que veio ao Brasil foi com seu marido, já falecido, o cineasta Jacques Demy que estava lançando ‘Os guarda-chuvas do amor’, seu grande propulsor profissional e ela lançava o filme ‘Felicidade’. Isso foi há 40 anos. Quem lhe abriu as portas por aqui foi o pai da sua anfitriã de hoje tamanha identificação e afinidade que se perpetuaram. Ate a mãe deste cineasta também já falecido veio à sessão. Estamos falando de Glauber Rocha.
Varda esta diretamente ligada ao movimento da Nouvelle Vague francesa da década de 1960. Também nesta edição do festival em comemoração ao ano da França no Brasil, Jeanne Nouveau, de ‘Jules et Jim’ entre tantos outros está presente. Ambas eram parceiras de Truffaut, Godard e Demy. O desejo de Agnes era que seu documentário sobre si mesma ficasse pronto para seu aniversario de 80 anos. Graças ao tempo a mais necessário, pode-se dizer, que ela rejuvenesceu. Seu trabalho é muito mais instigante e muito mais inovador do que de cineastas iniciantes e que deveriam estar ansiosos por descobertas novas.
A começar que é mostrado aquilo que realmente é. Sem disfarces. Logo na primeira cena Agnes, na praia, brinca com espelhos. Ela conta que sempre gostou de espelhos. Poderia ser só isso não tivesse um segundo sentido: o cinema é feito com câmeras e esta com lentes e espelhos reflexivos. Outra interpretação dos espelhos pode ser a questão da ilusão de óptica. O que reflete é realmente o que vemos? O espelho é traiçoeiro, mas, a película não. Aquilo que esta ali é o que será refletido como todo.
“Cinema é luz. É a luz captada e refletida que pode ser branco e preta ou colorida” – argumenta.
As praias estão presentes na vida de Agnes desde muito pequena. Alias a paria tem uma ligação forte com o sexo feminino, pois a mesma lua que rege as mulheres, rege a maré. Para aqueles que não acreditam nesse elo e, se continuarmos nas divagações sobre os espelhos, chegamos a Sartre que diz ‘A vida é sonho, ilusão’. E prosseguimos com o mesmo: ‘existe (muito) mais coisa entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia’.
O que há por trás da vanguarda de Varda? Ao mesmo tempo em que encarou sozinha seu primeiro filme tendo se mudado para uma aldeia de pescadores para filmá-lo com a ajuda de seus habitantes, também encarou sozinha a primeira filha, Rosalie, cujo pai ‘sumiu’ após o anuncio da gravidez.
Não tardou para encontrar Demy, seu grande e definitivo amor com quem dividiu vida e arte e quem foi o pai de Rosalie e de Mathieu, o filho dos dois que hoje é um ator renomado na França. Como boa esposa, foi por onde seu marido andou chegando a morar por dois anos em Los Angeles e se envolvendo com os registros do movimento hippie, os black panthers e o que aparecesse naquelas terras.
Como seus espelhos e como as ondas do mar, o pensamento não é único. Ele é livre. Agnes é livre. Seu pensamento se divide como a tela que por vezes em duas, por vezes em quatro e por vezes mais quadros mostram como ainda estão saltitantes seus ‘macaquinhos do sótão’. As cores da obra também se sobressai e por diversos momentos temos um filme-arte. Toda a trama da praia é perfeitamente costurada. Todos os elementos são perfeitamente afinados, coesos e coerentes. Como na musica clássica muito apreciada pela diretora. Seu preferido: Schubert, conforme sua mãe lhe ensinou.
Não há o que criticar em ‘Las plages d´Agnes Varda’, há muito que aprender, em termos de vida e em termos cinematográficos. Sem duvida um dos documentários (principalmente quando se fala de autobiográfico que aumenta muito o grau de dificuldade) mais bem feitos que já assisti.
Para marofar:
Para saber:
- Jacques Demy.
Para ver:
- Jules et Jim - de François Truffaut (este filme com Jeanne Morreau é o maior ícone da Nouvelle Vague Francesa. Jeanne, hoje com 82 anos, estava no Festival do Rio como homenageada especial e seus filmes foram exibidos).
- La pointe-courte - de Agnes Varda (primeiro filme da diretora)
- Os guarda chuvas do amor - de Jacques Demy (filme que deu visibilidade internacional ao diretor sendo convidado a trabalhar em Hollywood)
Para ouvir:
Serviço: 'As praias de Agnes' - Le plages d´Agnes ; Direção: Agnes Varda; Roteiro: Agnes Varda; Elenco: Agnes Varda, Rosalie Varda, Mathieu Demy e outros; Documentário - França - 100 min. - 2008.
Classificação SantaMarofa: 5 marofas!
Classificação SantaMarofa: 5 marofas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário