sábado, 26 de setembro de 2009

FESTIVAL DO RIO 2009 - ROCK BRASILEIRO - HISTÓRIA EM IMAGENS.



ESSE TAL ROCK AND ROLL

Didático. Documentário feito para ser exibido em escolas de ensino médio. Narração, linha de tempo em seqüência realista. Fatos jornalísticos. Poderia ser um Globo Repórter não fossem alguns detalhes de arte. Nem por isso é ruim ou chato. É simplesmente didático. E fossem todos os documentários didáticos bem feitos assim, não haveria o trauma dos filmes para se assistir na escola.
Talvez o que realmente seja bom seja o rock nacional e não o filme em si que artisticamente diz muito pouco. Depoimentos em plano americano com o entrevistado sentado e tratamento P&b. Parece que os depoentes foram selecionados para representar épocas, mas, no decorrer do documentário isso se confunde.
Da época inicial do rock no Brasil, o único depoente foi nossa versão de Keith Richards – Erasmo Carlos. Mesmo tendo aparecido quase uma geração depois, afinal, a primeira foi a de Cely Campello e Jerry Adriani (Cely já partiu dessa, mas Jerry é o Elvis brasileiro! Cadê depoimento dele?). Da mesma geração do Erasmão, cadê depoimento da Wanderléia? Nem estou falando no Rei que é outro escalão fenomenal, mas, cadê o Eduardo Araújo e a Silvinha? Cadê os Vips? Cadê Titio Ronnie?
Em seguida pula-se a geração da década de 1970. Rita Lee, Arnaldo e Sergio Batista, Ney Matogrosso, Eduardo Dussek, 14 Bis... Rita ainda deu o ar da graça em alguns (pra dizer a verdade um) vídeos caseiros. Os demais apenas foram citados e apareceram em fotografias. Coloca-se então os produtores das ex-grandiosas e todo-poderosas gravadoras: Liminha (que foi do Mutantes de Rita, Arnaldo e Sérgio no fim de carreira), João Araújo (pai de Cazuza e ex-todo poderoso da Som livre), a produtora do Circo Voador que descobriu muitos talentos no inicio dos anos 80 (que fique claro que ela era mera funcionária e não descobridora de talentos) e outros dois ou três produtores musicais.
Então o documentário ateve-se mais a mostrar e falar do rock na industria musical do que o Rock Brasil propriamente dito. E mesmo assim faltou gente! E como! Talvez os mais importantes. Representando a geração 80, Charles Gavin dos Titãs era o único realmente com embasamento para contar e pensar e história do rock. Erasmo é a testemunha viva e Gavin é o conhecimento. Ainda nos 80, Fernanda Abreu (Blitz!), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), João Barone (Paralamas do Sucesso) e Dado Villa-Lobos (Legião Urbana) tiveram depoimentos breves sobre sua vida na música. Representando os anos 90, caro leitor, é melhor sentar: o baterista do Raimundos (não lembro o nome), Henrique do Skank, Rogério Flausino (do Jota Quest). Eu falei para sentarem. Ou então, por favor, alguém me explique desde quando esses indivíduos são sumidades no assunto se nem o que deviam fazer fazem lá muito bem.
Um sem numero de pessoas muito mais interessantes deveriam ser entrevistadas. Gostaria de saber qual foi o critério para seleção dos entrevistados. Será que foi o critério ‘quem topa’? Sinceramente, colega diretor, vá amasiar os bancos de uma firma qualquer, cagar diariamente e ser feliz. Mude de profissão.
Aí me pergunto: o documentário é ruim? Como já disse antes, não e ruim. A questão não é essa. A questão é que artisticamente é fraco (tudo bem se o conteúdo fosse excelente) e o conteúdo, para quem conhece um mínimo de musica é vexatório. A grande probabilidade é de que seja tão didático a ponto de sub-julgar seu publico alvo (no caso jovens de ensino médio) e querer lhes contar uma historia a todo custo sem tanta estrutura. Quem não sabe nada vai saber um pouco. Afinal o Brasil não é o pais onde semi-analfabetos (aqueles que lêem, mas não compreendem, símbolo mor da educação sem raciocínio imposta nesse pais)? Em vez de fazer algo verdadeiro, vamos enganar com o que se consegue. Pensamento bem escola pública.
Para finalizar e aí o público cai na gargalhada é quando dizem que os novos representantes do Rock nacional são bandas como CPM22, NxZero e Fresno. Pitty deu seu depoimento no que concordo. De um tempo para cá ela tem mostrado que pensa rock e isso é independente de se gostar ou não de suas musicas. Eu disse gargalhar? Pois devíamos é chorar de desespero e vergonha.
Como Erasmão diz: rock é atitude! Esse filme não é rock and roll é o caretinha dando exemplos de pessoas que tem a sorte de viver da industria musical brasileira, sem claro tirar os méritos que lhes cabem. Como não falaram de experiências particulares (o que deixaria muito mais interessante), minha avó poderia ter sido entrevistada. Afinal ela já era adulta quando o rock chegou por aqui. Alias, ela conheceu antes até de chegar porque ouviu nos Estados Unidos antes de tudo por aqui. E hoje com 89 anos é mais ‘Tremendona’ que o ‘Tremendão’.
Quer mesmo saber um pouco sobre rock nacional? Então, só pra começar com os mais recentes, assista ao filme do Branco Mello ‘A vida até parece uma festa’, também conhecido como documentário dos Titãs, vá ao cinema ainda nesse semestre ver o do Herbert Vianna, corre para assistir o documentário ‘Loki’ sobre Arnaldo Batista nos cinemas e leia ‘Verdade Tropical’ do Nelson Motta para se situar musicalmente em nosso pais. Quando quiser se aprofundar um pouco mais, procure os livros da Editora Record escritos pelo Zuza Homem de Mello. Aí vocês vão entender o que eu estou falando.

Para marofar um pouco:


Para ler:

- Noites Tropicais - Nelson Motta (vamos começar pegando leve... esse livro é muito bom, tem uma linguagem bem coloquial e trás boas referências de início)

- Livros do Zuza Homem de Mello (se realmente quer saber sobre música no Brasil... aí vai!) : 'João Gilberto', 'Era dos Festivais - Uma Parábola', 'Música nas Veias', 'Eis aqui a Bossa Nova' e, 'A Canção no Tempo'.


Para ouvir:

- Programa 'Rock Brazuca' de Régis Tadeu na Rádio Usp. (Cena rockeira brasileira de todos os tempos)

- Programa 'Quintessência' com Charles Gavin na Rádio Eldorado FM, toda 5a. às 20h ou sábado às 24h. (Para quem gostou da coisa e quer saber mais...)


Para ver:

- 'Titãs - a Vida até parece uma festa' - Filme com registros feitos durante toda a vida da banda, desde os anos 80 até os dias de hoje. Isso sim é o rock nacional!

- 'Herbert-de perto' - Filme sobre o líder da banda Paralamas do Sucesso. Imperdível!


Serviço: 'Rock Brasileiro - História em Imagens'; Direção: Bernaro Palmeiro; Roteiro: Kika Serra; Elenco: Erasmo Carlos, João Araújo, Charles Gavin e outros; Documentário - 70 min - Brasil - 2009.



Classificação SantaMarofa: bafo ralo.

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