terça-feira, 6 de outubro de 2009

FESTIVAL DO RIO - AMÁLIA.



"As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;"
Canto 1 - 'Os Lusíadas' - Luís de Camões

AMÁLIA, CANTA-ME O FADO!

Confesso que fui receosa assistir ao filme 'Amália' do diretor português Carlos Coelho da Silva, sobre vida e obra da cantora portuguesa Amália Rodrigues. Momentos antes de entrar na sala 1 do Espaço de Cinema no Botafogo, Rio de Janeiro, encontrei o crítico Luis Carlos Merten do Estadão e contei-lhe o que veria. Sua reação não foi a mais incentivadora.
Elis Regina está para o Brasil, assim como Mercedes Sosa está para a Argentina, assim como Piaf está para a França, assim como Amália Rodrigues está para Portugal. Inclusive politicamente, como as acima mencionadas. A alma do artista quando exposta com veracidade e paixão torna o executor um ser extremamente atraente. Com os políticos não seria diferente essa atração, o único porém é que eles podem se aproximar. Mesmo que por interesse. Mesmo que mútuo.
Com Amália não foi diferente e o ditador Salazar se apaixonou pela cantora popular. Extremamente popular. A ponto de nem o namorado da 'alta' querer assumi-la na frente de seus colegas requintados. E olha que Amália era realmente bonita. Muitos acreditavam que os homens caiam aos seus pés. Tanto não foi assim que ela se casou para não ficar sozinha. Dormia em camas separadas com o marido que insistiu por anos que se casassem e ela por fim e sem paixão aceitou.
Fato é que Amália passou a sentir pena da solidão do ditador e passou a enviar-lhe poesias até que seu marido lhe abriu os olhos para o que estava acontecendo com colegas seus, também músicos e artistas. Imediatamente ela 'colocou as mangas de fora' e com sua influência política conseguiu libertar amigos na fronteira com a Espanha. Não pagou pouco. Foi vaiada e criticada em seus shows logo após a queda do regime em 1974 pela Revolução dos Cravos. Aquela que não teve nenhum tiro.
Fado, vem da palavra em latim 'fatum', ou seja, 'fato, destino'. São geralmente estrofes rápidas que cantam o sofrimento de um povo. Diz-se que chegou a Portugal com os mouros na retomada cristã, mas, é inevitável não perceber a influência da Modinha brasileira. Esse fado que conhecemos hoje teve seu inicio no começo do século passado.
Vamos ao filme propriamente dito: a primeira cena assusta e as primeiras sequencias também. A semelhança de linguagem com 'Piaf', o filme sobre Edith Piaf é muita. Eu, como tive uma péssima experiência com este, tremi ao ver a cena em que já com idade, Amália arrisca-se em um parapeito na janela de um hotel em Manhattan.
Me surpreendi. O diretor soube trabalhar bem passado e presente, não deixando o espectador à mercê como Piaf, onde a cronologia é extremamente confusa (basta lembrar que ao final do filme surge uma filha que não se sabe quando, como e onde nasceu e viveu - e morreu, sendo que em momento algum do filme foi mencionada). Amália podia ter sido uma ficção, um romance, não soubéssemos que é verdade.
Portugal consegue aqui uma grande produção, comercial e satisfatória. Amália Rodrigues no entanto, é sabido, foi muito mais do que isso.

Para marofar melhor:
Ouça:
- Amália Rodrigues.
- Dulce Pontes.
Veja:
- Capitães de Abril - de Maria Medeiros.
- Manoel de Oliveira - cineasta português nonagenário.
- Os Maias - de Eça de Queirós, dirigido por Luis Fernando Carvalho - Rede Globo.
Web:
- Amália, o Filme
Leia:
- Fernando Pessoa e seus pseudônimos.

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