segunda-feira, 25 de maio de 2009

Não é o meu, é o seu!

Que mesas de bar guardam segredos e surpresas não é novidade. Até eu que não tenho alto teor etílico costumo ter minhas particularidades com elas. De bar em bar (afinal, quem não tem mar corre pro bar), vamos construindo amizades das mais diversas. Do manobrista do vallet que torce para o mesmo time que você e portanto em dia de vitória é dia de desconto (ainda mais se seu carro for colorado também) ao staff.

Em uma só noite o mesmo cenário pode presenciar dois encontros completamente inesperados ambos surpreendentes. Um aniversário comemorado com um bota-fora. Os dois irmãos com amigos em comum em torno de um amontoado de vinte pessoas em forma retangular.A irmã numa ponta e o aniversariante na outra, assim poderiam atender a todos.

Eis que o ser indesejado por uma das convidadas entra no local, cinicamente a cumprimenta deixando-a boquiaberta e em uma atmosfera com gravidade mais pesada. Passa pela irmã e segue para o aniversariante. Esta, a irmã, olha imediatamente para a pessoa em choque e se explica, tentando evitar maior constrangimento, de que o convite não partiu dela, e sim dele, do aniversariante, que está tendo um caso com a fulana.

Desculpas e mais desculpas. Tudo bem, sem culpas, mas, com o ar pesado, os incomodados que se retirem. Bar seguinte, mas, não se preocupe, não é você, sou eu.

Tem aquele bar que é tão sua casa que você não consegue ir para casa, por mais tarde que seja, se dar uma passadinha. Ali, os amigos começam a aparecer ainda do outro lado da rua. Chama um, chama outro. Mesa pronta. Tres amigas e o namorado de uma delas. Até que em uma olhada um pouco mais apurada…. uma reconhece um rapaz.

Questiona para outra se não é o rapaz que ela teria flertado meses antes. A indagada jura de pé junto que não. A indagante fica com a pulga atrás da orelha. Tinha certeza que era ele. Lembrava perfeitamente. Minutos depois o rapaz se levanta e a indagante novamente diz ter certeza. Ainda com duvidas, a que deveria ser principal interessada, toma a frente da discussão e desafia a curiosa a perguntar ao moço qual o nome dele. Convite recusado. Mais uns minutinhos e o amigo do fulano é abordado ao passar pela mesa delas (e do namorado da terceira, que por ser das antigas, ouve todo tipo de abobrinha feminina).

Comprovado beltrano era ciclano. ‘Mas nossa! Ele engordou em poucos meses!’, ‘Peguei bem, hein? Ele ficou melhor, não ficou?’. As recordações de pouco mais de uma semana de affair recordaram à curiosa que ela reconhecera um amigo dele quando este convidou a amiga para ir à um…bar! O amigo do cara seria o blind date. Não rolou. Eram amigos de infancia. Então, como quem gosta de passado é museu, um terceiro amigo naquela noite foi apresentado e , ao que constava da memória da esquecida do flerte, a amiga havia passado momentos interessantes com seu novo date.

Quando uma mulher conhece alguem seja lá onde for, as amigas em volta tem uma lista mental de check-up, visceral e inevitavel à qual inconscientemente o coitado passa. Cabelo assim, dente assado, roupa tal, jeito de não sei que, acho que tem pau pequeno, etc. A pessoa envolvida é dominada por uma hipnose quando se deixa levar. Sabe olfato, tato, paladar e audição. Visão é exclusivamente das amigas. Que são quem vai lembrá-la depois.

A questinadora, preocupada com o da outra, nem lembrava de seu próprio que como fosfosol veio à memória da primeira. A grande desculpa afinal é que se beija de olhos fechados e a grande culpa, quase sempre, é da mesa de bar.



(escrito - 08 de maio de 2009)

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