segunda-feira, 25 de maio de 2009

SALVE THIAGO!

Fui no teatro depois de muito tempo de celibato (puxa, como tenho usado essa palavra ultimamente!) teatral. Pode parecer estranho, mas, esse é um sentimento que muitas vezes atinge a classe: tenho preguiça de ir ao teatro.

Sabe por que? Porque morro de medo!

Morro de medo.

Quando abrimos um guia de lazer para pesquisar as peças em cartaz, o que vemos são sempre as mesmas pessoas fazendo os mesmos papeis, sempre os mesmos títulos apelativos e de gosto intelectual, cultural e literário duvidoso (vide mulheres que vão para Marte, ‘pretchecas’ no divã ou pobres pênis infelizes) e o que talvez seja o pior: espetáculos psedo-chocantes, ou seja, gente que acredita que um palavrão e um nu frontal podem realmente causar impacto. Gratuito. Completamente gratuito.

O que me faz lembrar que essa falta de valor implícita é paga monetariamente. E bem paga.

Sou dessas que nem sempre aceita free-pass para ir ver os amigos. Prefiro pedir o dito ‘convite amigo’ que circula na classe, que e nada mais, nada menos que pagar um valor viável, coisa de cinco ou dez reais, para o espetáculo. Infelizmente esse preço é na verdade, para a produção, inviável tantas são as dificuldades.

Bom, fato é que hoje fui ao teatro. A convite da Lú. Minha amiga cultural.

Calígula.

Aliás eu só vi o Calígula. E por motivos vários: primeiro porque o personagem escrito por Camus para ele mesmo interpretar no final da década de quarenta na Argélia mas que acabou estreando com sucesso na França, é interpretado por aquele digamos assim….’parabéns’ do Thiago Lacerda. Acompanho a carreira do Thiago com alguma distancia. Como não sou bitolada nem neocult idiota, assisto televisão normalmente. Obvio então que tenha visto o belo rapaz de muitos metros e um rostinho incrível virar de moleque Malhação a galã da novela das oito e daí a ter tomado um rumo interessante que torna inevitável a comparação com outro bonitinho (‘bem’ bonitinho) Rodrigo Santoro. Podemos dizer que as trilhas são paralelas: um no teatro, outro no cinema.

Vi este Monumento no teatro na peça ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ e, junto com a belíssima ‘ok’ Maria Fernanda Candido arrasou e mostrou a que veio. Tem gente, como ele que dá umas ‘tacadas de sorte’ na vida. Não é novidade que Thiago fazia faculdade de administração e que se foi chamado para fazer Oficina de Atores da Globo depois de um desses ‘cursinhos’ de interpretação. Dizem que era apenas para perder a timidez. Quando foi chamado para um teste de personagem (o da Malhação), tinha no mesmo dia uma concorrida entrevista nas etapas finais de trainee na Mastercard. Não foi. Sorte nossa.

E depois disso, abraçou a causa. Não quis ser o bonitinho da TV. Foi atrás. Batalhou e hoje pode-se dizer que seu talento é quase do tamanho de sua envergadura. Vai chegar lá. Fácil fácil.

O mesmo personagem que vi Thiago interpretando com vontade e uma energia incrível no melhor estilo ‘carregar o espetáculo’, foi feito anos atrás por Edson Celulari.

No elenco estavam nomes como a também excepcional Magali Bif que tem décadas de palco e que no programa da peça aparece como ‘atriz profissional formada pela EAD’! (Afff). No entanto só mostra que realmente é ela no segundo ato. Pelo menos no dia de hoje a Magali Biff que eu conheci em Avenida Dropsie só chegou no segundo ato, antes era outra coisa.

Infelizmente Paschoal da Conceição não chegou. Com certeza não deixaram ele vir. Qualquer outro careca poderia estar ali. Assim como os demais atores não comparecem. Em nada. Discursos verborrágicos sem intenção. Intenção zero. Declamação. De-cla-ma-ção. Esquema ‘bocejo de plateia’.

Houve ator até que nitidamente ‘perdeu’ seus adereços nas coxias e entrou atrasado no palco na cena seguinte deixando-o sem rumo e com a cabeça no mundo da lua. Mas não na de Calígula. Talvez em uma das tantas luas de Saturno.Ou é Netuno que tem nove luas? Bom sei lá… em alguma lua por aí…

Esse mesmo estava tão preocupado em ar-ti-cu-lar bem as palavras e ‘pro-je-tar’ bem a voz que senti vontade de lhe dar nota. Que nem em escola de teatro que se faz pecinha de semestre e que o professor lembra os aluninhos antes do inicio ‘lembrem de falar alto, hein! Lembrem que a vovó surda da última fileira tem que ouvir, hein’.

Nestas participações, se destaca um: Ando Camargo, que mostrou a todos o que Stanislavski já dizia: ‘Fulano de tal não é bom ator suficiente para aquele pequeno personagem’. Ando se sobressai. Sabe aproveitar o pequeno (que não é tão pequeno assim) personagem e ‘tomar para si’ a situação fugindo dos discursos retos e monotônicos (viu de onde veio a palavra ‘monótono’?) que nos causam sono como um mantra.

Quanto ao texto não há o que se dizer. Pois se não fere aos ouvidos simplesmente, cumpriu seu papel. Quanto a transmissão de sua mensagem, dependemos mais do aparelho do que da fonte. Quando esse aparelho era bom, com freqüência modulada, acontecia o teatro, quando não, era simplesmente um texto. Não adianta dar excelentes textos na mão de atores ou transmissores medíocres. Tanto Walderez de Barros como Ricardo Macchi (‘Te amo Dara’, lembra?) interpretaram textos de Glória Perez. Vai culpar o autor?

Os cenários assinados por JC Serroni são muito bonitos, mas, mal aproveitados. Transcrições em Frances (!!) ficam soltas já que a historia se passa em Roma. Indiferente quanto ao fato de o original ser neste idioma. Estamos no Brasil, o espetáculo por nenhum momento sequer faz menção à França e não são todos os espectadores que tem a referencia de autor e das origens deste.

A trilha sonora é bem elaborada. Daniel Maia que tem crescido bastante no cenário de trilhas em espetáculos tem cada vez mais acertado a mão. Fora um aparte, que, sinceramente, não acredito ter sido seu o palpite: um final ‘triunfal’ com ‘Je Ne regret des riens’ cantado provavelmente por Cássia Eller. Mais uma referencia francesa? Então porque não Piaf?

Alias, porque essa musica?

Isso sim foi brega. Ilustrativo. Desnecessário. Diminuiu o cérebro dos espectadores. (Para quem não sabe, ‘Je´ne regret des riens’ em Frances quer dizer ‘Eu não me arrependo de nada’)

Ah, só para explicar, o espetáculo é dirigido por Gabriel Villela. Entendeu?


(escrito - 30 de novembro de 2008)

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