domingo, 9 de agosto de 2009

Gosto de escrever sobre filmes no calor da hora. Assim que termino de vê-los. Neste instante acabo de terminar um que se chama em português 'Banquete do Amor', mas, na verdade o nome é 'Feast of Love' que na tradução literal seria algo como 'Festival do Amor'. Um título um tanto quanto melancólico e quiçá piegas que se encaixa perfeitamente pois o filme trata primeiramente de solidão e segundo, das diversas formas de amor.
O foco central está em Bradley (Greg Kinnear, ou, o pai da 'Pequena Miss Sunshine'), um cara que é casado com uma mulher há 06 anos e, não a encherga. Não no sentido feminino do enchergar que tem mais a ver com a posição da mulher na relação, mas, no sentido real mesmo. Fica muito claro desde a cena inicial que o apaixonado 'bobo' é ele e ela está ali por que está. Porque não tem lugar melhor para ir. Na primeira oportunidade (e com uma mulher) ela sai do casamento apenas com uma mala de mão.
Morgan Freeman faz um professor quase voyer das relações de pessoas próximas. É com ele que Bradley conversa e troca confidencias. É esse professor também, que mostra ao amigo que no fundo estamos todos sozinhos, ninguém tem ninguém e, principalmente dois são dois e não um.
O menino que perdeu a mãe depois que esta abandonou o pai, a quem ele também perdeu ou nunca teve, mas que continuava fisicamente ali. A menina que não tem pais e se vira sozinha e encontra seu Romeu em Oscar, órfão de mãe fugida e pai vivo. O professor e sua esposa acabaram de perder um filho e recebem a menina como filha adotiva. A amante que se casou para seu enamorado se separar e então quebraram-se alguns corações entre eles novamente o de Bradley que foi o noivo-corno premiado. E por aí vai...
Mas a grande moral da história é essa. Somos um e apenas um. Encontramos pessoas na vida com quem acreditamos compartilhar de tudo e a quem acreditamos ter sempre ao nosso lado. Pode ser que seja verdade mas é bem mais provavel que essa pessoa te deixe mais cedo ou mais tarde. Esteja preparado. Abra os olhos. Salte, mas de olhos abertos. Veja a realidade, nem mais nem menos. Saiba onde está para não se perder.
As vezes vemos que fomos longe demais quando já estamos lá. Vá, não deixe de ir, mas, sempre de olhos bem abertos.
"Você acha que o amor é um truque para colocarmos mais bebês no mundo ou você acha que o amor é o único sentido para estarmos todos nesse sonho louco?", pergunta Bradley. "Eu infelizmente sou a segunda opção", ele completa. E eu concordo.
Nietzche dizia que odiava 'quem lhe trocava a solidão sem lhe dar de volta a verdadeira companhia'. Acho que é um pouco isso. Já Clarice dizia que a verdade 'é algo interior e irreconhecivel'.
Para mim, quem melhor traduziu a solidão foi Drummond. Tive a sorte de participar de uma brincadeirinha que rolou há uns anos com o amigo Jatir Eiró que se chama 'Ausência', mesmo nome do poema do Drummond, mas, com algumas intervenções que, ficou bem interessante e coloco abaixo.

"Por muito tempo eu achei que ausência era falta
E lastimava ignorante a falta
Hoje não a lastimo
Não há falta na ausência
A ausência é um estar em mim
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços
que rio e danço e invento exclmações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim"
Carlos Drummond de Andrade


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