segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tio Sam tocando tamborim

Para quem pensava que este seria um post sobre axé... perdeu bem a viagem e não aceitamos devoluções, portanto, já que entrou, leia até o final. Duvido que algum 'chicleteiro' como costumam chamar as pessoas que seguem o famoso grupo baiano, alguma vez se dignou a pensar de onde surgiu o nome do bloco. Sim, porque antes de ser uma banda, eles são um bloco carnavalesco (embora hoje em dia já nem tenha data certa de 'farra').

Então vamos do princípio: o trio elétrico. Que surgiu quando Dodô e Osmar construiram a primeira guitarra baiana, pelos idos de 1940 e poucos, logo depois da guitarra americana ser inventada. Dodô era além de tocador estridente de violão, especialista em elétrica. Osmar era mestre em cavaquinho e bandolim. Tratava-se na verdade de um 'pau elétrico', pois era um pedaço de jacarandá, com cordas e eletrificado.

Nos anos 50 ao saber que o governo da Bahia havia contratado um bloco de carnaval pernambucano para alegrar as ruas de Salvador, Dodô, Osmar e Armandinho resolveram ligar seus 'paus elétricos' em um Ford modelo 1929 e fazer 'som' desde Campo Grande até a Praça da Sé, mas, com a enorme multidão que os cercou chegaram à Praça Castro Alves. Estava inaugurado o circuito hoje conhecido como Dodô-Osmar, o mais importante do mais importante carnaval do mundo.

Pois bem, agora vamos voltar à questão da goma com a fruta.

Embora houvessem os 'paus elétricos', a guitarra foi criada verdadeiramente nos Estados Unidos por Les Pauls. Dodô e Osmar viram o violão elétrico pela primeira vez na própria cidade de Salvador, sendo tocado por um violoncelista. O fato é que a guitarra é gringa.

Agora, o cavaquinho, o bandolim e os dois músicos percussionistas que primeiro subiram no Ford 29 para acompanhar as cordas e tocavam a 'batucada brasileira', eram tupiniquins nativos. Assim, é fácil sacar a sacada do nome: Guitarra gringa com Batucada nacional.

Os Estados Unidos, potência mundial desde a 2a. Guerra na área economica, tecnológica e comportamental, estava no auge. Inclusive nos fez um agrado através do filme 'Alô Amigos!' (nome nada interesseiro) de Walt Disney com a criação do personagem Zé Carioca. Lembremos que o Brasil, no final da Guerra era força aliada dos Estados Unidos (é só recordar casos de denúncias como de Olga Prestes e a instalação da Base de Alcântara no Maranhão, sob domínio Norte Americano - aliás, foi ali que surgiu outro ritmo, o For All, remete algo?).




Bom, símbolo de modernidade dos EUA: jeans, tênis All Star, Rock and roll e.... chicletes que estavam nas bocas das gatinhas e dos gatões.

O Brasil, retrógrado, latifundiário, agropecuário, conservador, patriarcal (até em relação aos Estados Unidos, porém, de lá para cá), ou seja, o que mais poderia lhe representar senão um de seus maiores produtos de exportação e porque não sua imagem pública? A banana! Yes, nós temos banana! (E olha que Banana Republic era na verdade Cuba, hein...olha o que quase viramos para os gringos!)

A invenção que misturava ambos musicalmente: Chiclete com Banana!

Outra coisa é que não foram os formadores do grupo que pensaram isso (claro!). Esse é o nome do samba de Gordurinha e Altamira Castilho, gravado por diversos artistas, dentre eles os Novos Baianos, e o que se segue no vídeo abaixo, Jackson do Pandeiro. São as versões mais conhecidas:



'Eu só ponho bip-bop / No meu samba / Quando o Tio Sam pegar o tamborim / Quando ele pegar no pandeiro / E na zabumba / Quando ele aprender que o samba não é rumba / Ai eu vou misturar Miami com Copacabana / Chiclete eu misturo com banana / E o meu samba vai ficar assim / Tirirurururu bopbopbop / Quero ver a confusão / É o samba-rock meu irmão / Mas em compensação quero ver o boggie woogie de pandeiro e violão / Eu quero ver o Tio Sam / De frigideira / Numa batucada brasileira.'

Por fim, por que resolvi falar disso? Porque hoje vi um outro vídeo muito bacana, feito por um cara que admiro bastante profissionalmente: Esmir Filho. Foi ele quem fez 'Tapa na Pantera' com a Maria Alice Vergueiro, 'Acne' que é um curtinha adolescente bem legal e outros. E neste vídeo que misturou Beyoncé com Elza Soares, me remeteu a todo esse texto aí em cima... aliás... eu pelo menos adooro saber essas coisas...

Segue o link já que não pode ser adicionado...
http://www.youtube.com/watch?v=dYwwD3FsQJA

"Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorgeiam não gorgeiam como lá". Pode dizer e falar o que for, mas a grande real, o que todos sabemos e temos que cuidar, é que Eles (os deuses do mundo que está falindo a olhos vistos) sempre nos invejaram e sempre nos quiseram. Nossas praias, nossas mulatas, nosso carnaval, nosso 'Riou d´Janêirou' ... nossa caipirinha!

Um comentário:

  1. Olá,

    Excelente comentários, gostei muito.

    E a música Chiclete com Banana é muito interessante.

    "... Eu só ponho bip-bop / No meu samba / Quando o Tio Sam pegar o tamborim / Quando ele pegar no pandeiro / E na zabumba / Quando ele aprender que o samba não é rumba ..."

    Ou seja,
    - "... Eu só ponho HIP-HOP ..."
    - Tio Sam é uma figura de heroísmo/patriotísmo americano.
    - "... Quando ele aprender que o samba não é rumba...", rumba á um tipo de festa africana.

    Acredito que o forró vem de forrobodó (que significa festa), já que o primeiro forró foi criado por Luiz Gonzaga (nome da música "baião", misturando instrumentos de várias culturas: zabumba, triângulo e acordeon/sanfona) antes da segunda guerra mundial.

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